Escola especial é destaque em excelência de ensino

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Publicado sexta-feira, 10 de dezembro de 2004 as 12:38, por: CdB


Quem conhece a escola, escondida em um bosque em Quintino, Zona Norte do Rio, se pergunta como uma entidade pública conquistou e mantém um dos mais cobiçados certificados de alta eficiência do mercado. A qualidade no ensino da Escola Especial Favo de Mel pode ser vista em detalhes, como um refeitório lotado de crianças sem um pedaço de papel no chão, no encaminhamento de alunos a um emprego, ou no ato simples da diretora Maria Cristina Lacerda parar sua refeição e ajudar um estudante a desfiar a carne no prato. Um detalhe: A Favo de Mel, unidade da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio (Faetec), trata de crianças e adolescentes excepcionais. 

Existe há oito anos, tempo suficiente para que, sob a égide de um programa diferenciado, a escola se transformasse em referência para pais, professores e estudiosos do assunto. A Favo é a única escola pública de ensino especial no Brasil – e uma das poucas de ensino básico – a possuir o certificado ISO, concedido no país pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

– A educação especial é cara. O sistema nos cobra muito e deve-se ter um espírito empreendedor sempre – destaca Maria Cristina, professora com mestrado na UERJ, há 35 anos dedicada ao tema, que lhe rendeu também os prêmios Qualidade Rio, em duas ocasiões, e o Nacional de Referência em Gestão Escolar. – Temos que trabalhar com amor, mas principalmente com profissionalismo – continua ela, que conhece pelo nome cada um de seus 200 alunos. 

Embora a escola sofra com a curta verba e pequenos problemas de infra-estrutura – como qualquer outra instituição de ensino público – o diferencial se consolida na coletividade. “A nossa diferença está na integração e participação.
Há uma proposta educacional de grupo”, explica Maria Cristina. A direção criou comitês de pais, professores, funcionários, alunos e até copeiros, eleitos pelos seus pares. Reúnem-se mensalmente para discutir os prós e contras de cada situação. Alguns pais, aliás, permanecem na sala destinada a eles, com psicólogos e orientadores, e dali monitoram os filhos. 

– Temos uma média de 20 a 25 pais presentes, que ficam na escola até seis horas diárias – lembra a diretora. 

Essa presença constante não é mera preocupação. Dia sim, dia não, o gabinete de Maria Cristina recebe algum aluno que extrapola no trato com o professor. Em casos mais graves, recorre-se aos pais.

– As pessoas não ouvem os deficientes, há sempre alguém falando por eles. Eles (os deficientes) já têm dificuldades em construir seu senso crítico, então, se continuarmos a tratá-los assim, nunca vão tomar iniciativa. A partir do momento que nos direcionamos a eles, sentem-se respeitados e se dão conta de como são valorizados.

Maria Cristina é atenta ao vocabulário. Não puxa para si o mérito da dezena de prêmios conquistados pela Favo. Entoa a conjugação na primeira pessoa do plural para justificar metas cumpridas, às vezes pequenos objetivos, mas significativos do ponto de vista pedagógico.
Enquanto ela conversava com a equipe do Correio, o fotógrafo Leolino Souza ouviu um som longínquo de um violão. Descobriu, três salas adiante, um grupo de adolescentes cantando ao som do instrumento de um professor.

O ISO 9002 foi conquistado em 1998 e renovado em novembro do ano passado, migrando para ISO 9001:2000. As inspeções são anuais. A equipe da ABNT avalia, por exemplo, o trabalho em equipe e o currículo do corpo docente – a Favo possui 23 professores, sendo 25% com mestrado e 15% em doutorando.

– O que nos levou a dar o certificado foi o fato de ser uma instituição pública que buscou a certificação com méritos, com prova de que é eficiente. Ver uma organização pública como a Favo com esse tipo de qualidade é fundamental para o ensino público – justifica o gerente de certificação da ISO para o Brasil, Guy Ladvocat. – O trabalho que é feito na Favo é de altíssimo gabarito, que a coloca em níve