Editor de revista feminina do Afeganistão é preso por blasfêmia

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Publicado terça-feira, 4 de outubro de 2005 as 11:07, por: CdB

Autoridades do Afeganistão prenderam o editor de uma revista sobre direitos das mulheres por ordem de um assessor presidencial que considerou um artigo como blasfêmia ao Islã, disse nesta terça-feira uma autoridade do alto escalão do governo.

Mohaqiq Nasab, editor-chefe da “Hoqooq Zan” (Direitos da Mulher) foi detido na última quinta-feira por instrução de um assessor de religião do presidente Hamid Karzai -que tem apoio do Ocidente -, disse a autoridade.

Fazel Sangcharaki, vice-ministro no Ministério da Informação e Cultura, disse que não sabe o nome do assessor. O conselheiro religioso de Karzai, Mohaiuddin Baloch, não foi encontrado de imediato para comentar.

Sangcharaki disse que a prisão de Nasab é tecnicamente ilegal, já que o governo designou uma comissão de mídia para questioná-lo antes de decidir sobre a detenção. No artigo, o editor de 50 anos de idade questionou a necessidade da dura punição islâmica para apóstatas, ladrões, adúlteros e assassinos, disse Sangcharaki.

Segundo as leis tradicionais islâmicas, a Sharia, apóstatas e assassinos devem ser executados, ladrões devem ter uma das mãos amputadas e adúlteros devem ser apedrejados em público.
Estas práticas eram comuns durante o regime radical do Taliban, de 1996 até a queda em 2001, causada por forças lideradas pelos Estados Unidos porque o grupo recusou-se a entregar Osama bin Laden.

Apesar de as leis ainda valerem no país, as punições deste tipo são raras, e clérigos islâmicos também vem se manifestando contra elas. Sangcharaki argumenta que o jornalista manifestou suas opiniões legítimas, dentro dos termos da lei de mídia do Afeganistão.

– Ele tem que ser libertado para poder ser questionado pela comissão de mídia sobre o artigo – disse.

Hafizullah Barekzai, vice-presidente do sindicato de jornalistas do Afeganistão, disse que estão sendo tomadas medidas pela libertação de Nasab. O Comitê de Proteção de Jornalistas, de Nova York, manifestou preocupação com a prisão e disse que a lei de imprensa no Afeganistão é vaga e dá espaço para punições de acordo com as leis islâmicas.

Dezenas de revistas e canais de televisão particulares surgiram no conservador Afeganistão desde a queda do Taliban, e alguns debatem as leis islâmicas. Em 2003, dois jornalistas locais foram presos e enfrentaram ameaças de morte por acusações de blasfêmia. Depois de um breve período de detenção, eles foram libertados, fugiram do país e pediram asilo no Ocidente.