Dom Waldyr Calheiros, o eterno bispo de Volta Redonda

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Publicado quarta-feira, 9 de julho de 2014 as 15:00, por: CdB
Colunista destaca a importância de Dom Waldyr Calheiros, na greve dos metalúrgicos de Volta Redonda
Colunista destaca a importância de Dom Waldyr Calheiros, na greve dos metalúrgicos de Volta Redonda

Estive neste domingo, 6 de julho, em Volta Redonda (RJ) e visitei local onde foi inaugurada recentemente uma estátua de Dom Waldyr Calheiros Novaes. Dom Waldyr foi um dos primeiros líderes católicos a se levantar contra a ditadura militar brasileira. Abrigou e livrou da morte um sem número de perseguidos políticos.

Em 1988, na greve histórica da Companhia Siderúrgica Nacional, ele estava onde sempre esteve: ao lado dos trabalhadores. Celebrou em praça pública missa pela morte de 3 operários após o Exército invadir a fábrica.

Em 2012, estive duas vezes em sua casa para entrevistá-lo. Faleceu em 2013, aos 90 anos. Hoje está eternizado numa estátua branca, na praça Juarez Antunes, bem em frente às chaminés fumegantes da CSN. Juarez foi prefeito da cidade do sul fuminense e um dos líderes da greve de 88. Na mesma praça, há um memorial, projetado por Oscar Niemeyer, em memória dos funcionários da CSN mortos na greve.

Dom Waldyr compôe o capítulo inicial do meu livro “O problema é ter medo do medo”, previsto para ser lançado em 2015 e que trará um total de 26 entrevistados que enfretaram, de diversas formas, a ditadura. O capítulo em que está Dom Waldyr se chama “Trabalhadores golpeados” e será dedicado à memória dele.

Estranho é comer deliciosos pães de queijo na casa de uma pessoa e dois anos depois se deparar com sua estátua, praticamente uma imagem santa, que estava sendo adorada por fiéis. Nem sei se Dom Waldyr queria isso, se queria ser adorado depois de morto. Acho que não. Viveu uma vida plena e foi através dela que deixou seu legado. Mas a homenagem, em frente à fábrica, naquela praça, é merecida. Merecidíssima.

Esperemos que a estátua dure bastante, mas a placa que descreve a história do bispo já estava solta. Num país com sérios problemas de memória, preocupa a preservação do patrimônio histórico. O importante, porém, é que o legado de Dom Waldyr não é uma estátua. É um legado móvel, vivo, que está em todos que lutam por um mundo mais justo.

Ana Helena Tavares, jornalista, conhecida por seu site de jornalismo político Quem tem medo da democracia?, com artigos publicados no Observatório da Imprensa e na extinta revista eletrônica Médio Paraíba. Foi assessora de imprensa e repórter dos Sindicatos dos Policiais Civis e dos Vigilantes. Universitária, entrevistou numerosas pessoas que resistiram à ditadura e seus relatos (alguns publicados na Carta Capital e Brasil de Fato serão publicados brevemente num livro.

Direto da Redação é editado pelo jornalista Rui Martins.