O dólar interrompeu nesta quarta-feira a trajetória de queda que havia assumido desde o início do ano e encerrou com a primeira alta expressiva de 2003, de volta ao patamar dos 3,30 reais. O apetite pela moeda ressurgiu com os temores pela reforma da Previdência.
O motivo para a apreensão, segundo operadores, foi a repercussão da entrevista do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Marco Aurélio Mello, ao jornal O Estado de S. Paulo, onde criticou as propostas do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, para a reforma.
A moeda norte-americana fechou vendida a 3,330 reais, com uma forte alta de 2,15 por cento em relação ao fechamento da véspera.
“Quando o mercado toma um viés por muito tempo ele sempre acaba dando um jeito de mudar o rumo e esse discurso do presidente do STF acabou jogando um balde de água fria no otimismo do mercado”, avaliou Douglas Leão, operador da Corretora Treviso em São Paulo.
O ministro disse que as propostas de Lula para a reforma da Previdência “dificilmente prosperarão num estado democrático de direito, principalmente se tentarem derrubar o instituto do direito adquirido” e que isso só seria possível através de uma revolução.
O diretor da Corretora Souza Barros, Carlos Alberto Abdala, ressaltou que o presidente do STF tocou em um ponto delicado. “Todo mundo sabe que há muitas dificuldades em relação a isso, mas um homem na posição dele deveria saber que um discurso desse pode causar um estrago no mercado”, disse Abdala.
No entanto, o executivo acredita que a tendência da moeda ainda é de baixa e que o mercado apenas usou o discurso do ministro como justificativa para realizar lucros.
“Hoje a demanda foi maior, mas nada que criasse uma tendência”, disse Abdala. Outro fator que também teria contribuído para a alta da moeda estrangeira, segundo alguns operadores, é a liquidação dos cerca de 1,8 bilhão de dólares entre títulos e contratos de swap cambial do primeiro vencimento de dívida atrelada ao dólar que acontece na quinta-feira.
Como a remuneração dos contratos é feita de acordo com a Ptax –taxa média oficial do dólar– desta sessão, alguns investidores teriam aproveitado o movimento do dia para pressionar ainda mais a moeda e garantir uma cotação mais favorável ao resgate da dívida.
“O que dizem é que apesar do Banco Central ter renovado 97 por cento da dívida, nem todos os bancos que estavam comprados (em swaps e títulos) rolou a dívida. Com isso estariam pressionando a cotação para garantir um retorno maior”, explicou Mario Battistel, diretor de câmbio da Novação Corretora.