Dois longas-metragens destacam personalidades negras nas telonas

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Publicado segunda-feira, 20 de novembro de 2023 as 10:12, por: CdB

Filmes como “Nosso Sonho” e “Mussum, o Filmis” celebram trajetórias de personalidades negras, mostrando superações diante do racismo e das adversidades.

Por Marcos Aurélio Ruy – de Brasília

Duas cinebiografias, atualmente em cartaz, destacam personalidades negras nas telonas. Nosso Sonho, de Eduardo Albergaria, que retrata a dupla de funk carioca Claudinho & Buchecha, e Mussumo Filmis, de Silvio Guindane, que apresenta a história do sambista e humorista que fez história na televisão, colocam em cena o racismo estrutural da sociedade brasileira.

Filmes como “Nosso Sonho” e “Mussum, o Filmis” celebram trajetórias de personalidades negras

A história de Cláudio Rodrigues de Mattos (1975-2002), e Claucirlei Jovêncio de Sousa, que formaram a dupla Claudinho e Buchecha, de enorme sucesso nos anos 1990, é a história da juventude preta e pobre da periferia.

Trata-se da história de mães-solo, pais alcoólatras e violentos e a gratidão dos filhos a mães, que suportam toda a carga de manter uma família com muita dificuldade, que enfrentam as pessoas que vivem do trabalho e sonham em mudar de vida.

Violência policial

É a juventude que só conhece a presença do Estado através da violência policial. Uma juventude que tem muita perseverança para não sucumbir ao tráfico devido à ausência do Estado nas favelas onde mora. Então o sonho dos dois artistas está na superação de suas mazelas, com a sua arte, muito mais do que sobreviver, e sim viver em condições dignas.

Já, Mussumo Filmis apresenta a trajetória do artista Antônio Carlos Bernardes Gomes

(1941-1994), conhecido como Mussum, que teve na mãe (interpretada por Cacau Protásio ainda jovem e Neusa Borges) a figura firme e resoluta para seguir rumo ao sucesso tanto na música quanto na TV e no cinema.

Um bordão de sua mãe deixa clara a força dessa mulher em segurar o filho pelo braço e lhe mostrar o caminho da educação como possibilidade de a população pobre melhorar de vida. Ela dizia: “Burro preto tem um monte, mas preto burro não”.

Mussum fez muito sucesso com o grupo Originais do Samba e com o programa de humor Os Trapalhões. E, além de sucesso na TV, Os Trapalhões foram responsáveis por grandes bilheterias, levando ao cinema muita gente que não tinha esse hábito. Como uma espécie de Mazzaropi urbano, o quarteto de comediantes tinha no grupo, além de Mussum, Renato Aragão, Dedé Santana e Zacharias.

A obra de Guindane levou o prêmio de melhor filme no 51º Festival de Cinema de Gramado, além de arrematar o de melhor ator para Aílton Graça (como Mussum), melhor atriz coadjuvante para Neusa Borges (como Malvina, mãe de Mussum) e melhor trilha sonora.

Humor muito popular, que carregava consigo uma grande dose de racismo, machismo e LGBTfobia, como todos os outros programas de mesmo tipo, embora nas décadas passadas não se falasse muito desses temas.

As duas obras carregam em si a força de um povo que resiste e enfrenta todas as adversidades impostas por um sistema excludente, que usa o racismo, o machismo e a LGBTfobia como formas de dominação para justificar a exclusão.

 

Marcos Aurélio Ruy, é jornalista.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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