Disputa entre EUA e Europa ameaça reduzir OMC a zero

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Publicado quarta-feira, 14 de dezembro de 2005 as 11:35, por: CdB

Os Estados Unidos e a União Européia protagonizaram uma troca de farpas, nesta quarta-feira, sobre subsídios agrícolas, ajuda alimentar e medidas de apoio aos países mais pobres do mundo, azedando ainda mais as já problemáticas conversas sobre o comércio mundial. O comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, alertou que a Organização Mundial do Comércio (OMC) pode até fracassar no único objetivo que parecia certo de ser alcançado no encontro da entidade em Hong Kong: um pacote de medidas para ajudar os países menos desenvolvidos (ou LCD, na sigla em inglês).

– Eu estou preocupado que o pacote LCD possa estar em problemas agora. Se nós não o entregarmos, eu realmente penso que deveríamos nos perguntar o que estamos fazendo em Hong Kong – disse Mandelson.

O encontro em Hong Kong, que ocorre entre 13 e 18 de dezembro, tinha a proposta inicial de aprovar um acordo para liberar o comércio agrícola, industrial e de serviços. O plano foi abandonado por conta de diferenças entre países ricos e em desenvolvimento. O representante comercial dos EUA alertou nesta quarta-feira que o mundo cairia novamente em um protecionismo prejudicial sem progresso nas negociações comerciais.

– Eu acredito que ou nós nos movemos ou nos arriscamos a andar para trás na direção do protecionismo, que irá tolher o crescimento econômico e prejudicar principalmente os países em desenvolvimento – disse ele.

Portman pediu a fixação de uma data já em Hong Kong para a eliminação dos subsídios à exportação, que são usados majoritariamente pela Europa, mas a UE rebateu dizendo que Washington deveria antes reformar sua ajuda alimentar. A Europa diz que o programa de ajuda alimentar dos EUA é uma forma de subsídio aos produtores norte-americanos, ao garantir-lhes um mercado para seus produtos. A UE sugere que toda ajuda seja dada em dinheiro, pedido que tem respaldo entre organizações humanitárias com a Oxfam.

“Vida ou morte”

O chefe do programa de ajuda alimentar dos EUA, Andrew Natsios, critica a posição da Europa, dizendo que as atuais contribuições alimentares globais eram “miseravelmente pequenas” até mesmo para as necessidades emergenciais e estavam ameaçadas pela postura dos líderes da UE. O Brasil, que tem liderado os esforços dos países em desenvolvimento por mais acesso para seus produtos agrícolas, criticou os “vestígios de feudalismo” e “os privilégios inaceitáveis” dos países ricos.

– Os países ricos não podem esperar receber um pagamento pelo que eles deveriam ter feito de qualquer maneira há muito tempo. Países pobres não podem esperar mais 20 anos para ver uma verdadeira reforma no comércio agrícola. A hora de agir é agora – disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim.