Diretor Shyamalan cria utopia assustadora em The Village

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Publicado quinta-feira, 29 de julho de 2004 as 14:28, por: CdB

O filme mais recente do diretor M. Night Shyamalan estréia nesta sexta-feira nos Estados Unidos, e o clima de suspense não está restrito às telas.

A expectativa é grande em Hollywood para ver se o mais novo mestre das histórias sobrenaturais de suspense e terror vai conseguir criar a mesma magia nas bilheterias que produziu com trabalhos como “Sinais” e “O Sexto Sentido”.

Estamos falando de um diretor cujos filmes já arrecadaram entre 95 milhões de dólares (“Corpo Fechado”) e 294 milhões (“O Sexto Sentido”), um homem que tem uma obra imprevisível.

Se ele se sair bem também desta vez, a Disney vai poder relaxar um pouco e parar de se preocupar tanto. A empresa vem tendo um ano fraco nas bilheterias, incluindo um ou dois fracassos que ela bem que gostaria que a crítica esquecesse, como “O Álamo”.

Assim, a Disney deposita suas esperanças no diretor de 34 anos, nascido na Índia e criado na Pensilvânia, que busca sua inspiração em histórias de quadrinhos e no ocultismo.

Desta vez Shyamalan parece estar se inspirando em fontes diversas, desde o ambiente de “O Morro dos Ventos Uivantes” até contos de fadas sobre seres que se escondem na floresta, passando por utopias que sobrevivem por se fechar em relação ao mundo externo.

Em um encontro recente com a imprensa, o diretor demonstrou confiança nas chances de “The Village” captar a atenção tanto do público típico do verão quanto dos cinéfilos mais sérios.

Ele afirmou que, embora seja visto como criador de filmes de suspense — e o trailer de “The Village” realça esse gênero –, desta vez criou um filme “sem gênero”. Mas afirmou que, se for preciso definir sua categoria, pode-se dizer que “The Village” é “uma história de amor de época com clima de suspense”.

A história gira em torno de uma vila do século 19 situada no meio de uma floresta. Seus habitantes não podem deixar a vila devido às criaturas que se escondem na floresta.

De maneira típica de Shyamalan, a trama leva o público a desemaranhar os mistérios da vila, incluindo a razão pela qual seus líderes aceitam conviver com a ameaça oculta na floresta.

Shyamalan disse que um dos principais temas do filme é o medo e suas consequências, além do amor e do ideal utópico.

“Essas pessoas assumiram o compromisso de tentar trazer a esperança de volta à vida, de ter fé na humanidade, e a questão é: a que custo?”, disse ele.

Para o ator William Hurt, que representa o líder principal da vila, a idéia de escapar da realidade é encontrada “em comunidades idealistas em todas as épocas”.

“O filme pergunta se a utopia pode funcionar”, disse ele. “Não sei de ninguém que saiba a resposta a essa pergunta, mas eles (os moradores da vila) sabem que as alternativas não funcionam e que, no mínimo, vale a pena tentar.”

Em seu primeiro papel no cinema, Bryce Dallas Howard, a filha de 23 anos do diretor Ron Howard, representa a heroína cega da história.

Ela contou à Reuters que Shyamalan lhe ofereceu o papel depois de assistir a seu trabalho numa pequena peça de teatro em Nova York.

A atriz disse que, para preparar-se para o papel, caminhou num bosque sozinha à noite, com os olhos vendados. “Então percebi que o medo era fruto do mundo criado pela minha própria imaginação, que me prendia em sua armadilha. Quando você consegue desvencilhar-se de sua imaginação, fica livre”, disse a atriz.