Dirceu é cassado e crise tende a diminuir

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Publicado quinta-feira, 1 de dezembro de 2005 as 01:50, por: CdB

A Câmara dos Deputados cassou, nesta quarta-feira, o mandato do ex-ministro José Dirceu (PT-SP). Embora jurasse inocência até o último minuto, Dirceu foi acusado de coordenar um possível esquema de pagamento de propinas a deputados, em troca de votos favoráveis ao governo, chamado mensalão. A decisão fortalece a idéia de que a crise política, segundo analistas, tende a se arrefecer. Foram 293 votos pela cassação, 192 contra, oito abstenções, um em branco e outro nulo.

– O escore foi apertado. Por pouco Dirceu não mantém o cargo. Isso significa uma imensa dor de cabeça, uma ressaca moral mesmo, em todo o Congresso nesta quinta-feira – disse um dos eleitores do “não” a José Dirceu, que prefere não aparecer no momento “por respeitar a dor de um homem inocente que acaba de ser injustiçado”, afirmou o parlamentar, à saída do Plenário.

Antes mesmo do encerramento da apuração, os votos favoráveis à cassação já haviam atingido o número mínimo necessário de 257. Cassado, o ex-deputado perdeu os direitos políticos por oito anos. Principal articulador político da vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, José Dirceu de Oliveira e Silva, de 59 anos, chegou a ser chamado de superministro, primeiro-ministro e homem-forte do governo petista, mas foi dos primeiros a cair com a crise.

Dirceu, em seu discurso de cerca de 50 minutos, reafirmou ser inocente e defendeu não existirem provas sobre atuação ilegal de sua parte na compra de votos ou arrecadação irregular de dinheiro para o PT.

– Não sou chefe do mensalão, jamais propus compra de votos. Esta casa está me julgando e também está se colocando em julgamento. Não é verdade que essa casa votou reformas por compra de votos. A pior coisa da minha vida foi sair do governo, mas precisava vir aqui e me defender contra essas denúncias vazias. E cheguei em pé. Não vou me drobrar, não vou cair – afirmou o deputado, pouco antes do escore que lhe cassou os direitos civís, na prática, por uma década, devido ao calendário eleitoral.

O ex-parlamentar disse que a cassação que se aproximava seria uma violência contra ele, contra os eleitores e contra 40 anos de vida pública. Dirceu ainda pediu que a Câmara não se transforme em tribunal de exceção cassando o seu mandato sem provas sobre quebra de decoro.

– Se coloquem no meu lugar, como é possível cassar sem provas. Será uma cassação por 10 anos. Até lá, terei 70. Com os avanços da medicina, viverei ainda 30 anos e não sairei da vida política do meu país. Ainda assim, essa cassação não deixaria de ser uma violência. Amanhã, quero acordar como um cidadão que prestou contas a essa casa. Não quero misericórdia, quero justiça – apelou o ex-deputado.

Resistência

Primeiro foi Roberto Jefferson (PTB-RJ), depois Dirceu perdeu o mandato em decorrência das denúncias. Em junho, dez dias após as acusações feitas por Jefferson, Dirceu deixou a chefia da Casa Civil, onde permaneceu por 30 meses. Quase seis meses depois, perdeu seus direitos políticos por oito anos nesta quarta-feira. Dos mais de dez parlamentares envolvidos nas acusações, apenas Dirceu, que nega as acusações, e o próprio Jefferson perderam os mandatos.

Símbolo da esquerda no governo, Dirceu foi atingido pelas denúncias em fevereiro do ano passado, quando veio à tona a cobrança de propina realizada por seu ex-auxiliar Waldomiro Diniz, em 2002, antes da posse do presidente Lula. Na Casa Civil, onde ficou por 30 meses, era responsável tanto pelo gerenciamento administrativo do governo quanto pela articulação política. Costurava os apoios no Congresso para as votações de interesse do Planalto e chegava a coordenar acertos para mudanças ministeriais, como no final de 2004, quando acabou desautorizado pelo presidente Lula em convites já acertados.

Apesar dessas incursões na articulação política, no início daquele ano viu seu ministério ser desmembrado para que o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) assumisse