Destino de voluntárias seqüestradas é dúvida na Itália

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Publicado domingo, 26 de setembro de 2004 as 12:46, por: CdB

A incerteza quanto ao destino das duas italianas seqüestradas no Iraque tomou conta dos italianos, que novamente voltam a temer por suas vidas ao saber, através de um jornal árabe, que seus seqüestradores não admitem mediações e que exigem a todo custo que as tropas italianas abandonem o país árabe.

Um dia após o jornal kuwaitiano “Al Rai Al Amm” garantir que Simona Pari e Simona Torretta, ambas de 29 anos, não tinham sido decapitadas, desmentindo informações surgidas na internet e devolvendo a confiança aos italianos, o jornal revela neste domingo, que a mediação para salvá-las “é difícil”, o que joga um novo balde de água fria sobre a população e os familiares.

Fontes dos serviços secretos italianos, segundo publica hoje a imprensa local, temem que a divulgação de notícias tão contraditórias nos meios de comunicação árabes só sirvam para “queimar” alguns dos canais abertos para libertar as duas jovens.

O diretor do “Al Rai Al Amm”, Ali Al Roz, declarou ao jornal italiano “Corriere della Sera” que as fontes consultadas, que considera de confiança, garantiram que as duas moças estão bem fisicamente, que não foram maltratadas e estão comendo, mas que não estão bem psicologicamente.

“As fontes nos disseram que psicologicamente elas estão muito cansadas e pedem constantemente para serem libertadas”, disse Ali Al Roz.

O diretor do jornal frisou que não sabe onde elas estão, mas que as fontes disseram que junto com as jovens, seqüestradas em 7 de setembro, estão dois iraquianos, levados pelos seqüestradores para serem intérpretes.

Ali Al Roz disse também saber que existem negociações para libertar as duas moças, que trabalham para a ONG italiana “Un Ponte per Bagdah” (Uma ponte para Bagdá), que colabora em um projeto do Unicef para melhorar a educação escolar em Bagdá e em Basra.

O jornal revelou que um emissário do governo italiano foi recentemente à Síria para pedir aos ulemás moderados que sejam mediadores no caso. Porém, o religioso com quem fez contato, Sheikh Salah Kaftaro, disse que não tinha notícia alguma dos seqüestradores e o convidou a se dirigir ao governo sírio.
Al Roz disse neste domingo ao “Corriere della Sera” que embora seja conhecida a vontade da Síria de colaborar com a Itália, com a qual mantém boas relações, acha que Damasco “não pode fazer muito no Iraque”.

Sobre essas eventuais mediações de líderes religiosos, as fontes do jornal kuwaitiano afirmaram que elas serão “rejeitadas sempre que o governo de Silvio Berlusconi não respeitar suas exigências da retirada total das forças italianas do território iraquiano”.

A Itália tem 2.700 militares no Iraque, localizados na região de Nassiriya.
O jornal kuwaitiano já publicou ontem que a mensagem dos seqüestradores, segundo as fontes, é “muito clara”.

“A mensagem é clara, o povo iraquiano denuncia o envio de forças italianas ao Iraque e pede uma decisão firme para retirá-las, como fez o governo espanhol, que as tirou para manter as relações de amizade com o povo iraquiano”, escreveu o jornal.

O governo italiano, que insiste na cautela, mantém silêncio. Fontes do Ministério de Asssuntos Exteriores reafirmaram que todos os canais continuam abertos.

A ONG para a qual trabalham as duas Simonas, como já são conhecidas na Itália de forma carinhosa, deu início à iniciativa “Quatro margaridas viçosas florescidas na terra salgada. Vamos ajudá-las a crescer”, como símbolo de paz e esperança e para manter viva a atenção do mundo sobre as duas seqüestradas e os dois iraquianos que tiveram o mesmo destino.

A ONG propõe a colocação de margaridas em todas partes, nas casas, nos locais de trabalho, nas escolas, nos edifícios, em automóveis, “em todos os lugares em que possam florescer”.

Os familiares das duas reféns afirmaram neste domingo que continuam sem notícias oficiais e que não perdem a esperança de voltar a abraçá-las.