Debate, quem tem medo da verdade

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Publicado sexta-feira, 17 de outubro de 2014 as 15:00, por: CdB
Colunisrta comenta o último debate entre Dilma e Aécio na Band
Colunista comenta o último debate entre Dilma e Aécio na Band

Depois do último debate presidencial na Band, os jornais falam em “troca de acusações”. Essa é a maneira imparcial de falar de uma luta, no mesmo tom imparcial com que falam de massacres na Palestina com manchetes de troca de bombas. Ou dos relatos da ditadura, quando noticiavam em toda imprensa “terrorista morto em troca de tiros”. Se a imprensa tem impedimentos de fidelidade ao acontecimento, bem que poderia falar, pelo menos em relação ao último debate entre Dilma e o candidato tucano: “Dilma vence como uma guerreira”.

Menos, corrijo. Admito que isso é demais para a aparente imparcialidade da mídia. Então pelo menos que os jornais pusessem em manchete: “Dilma vence por pontos o debate”. Na BBC Brasil chegaram a noticiar que o debate foi uma luta da UFC. Então, pelo critério imparcial, Dilma teria vencido por pontos. Aí estariam mais próximos do que houve.

Mas observem, não sei se vocês viram, mas o debate da última noite na Band teve dois momentos grandes: no primeiro deles, geral, foi ver o quanto Dilma cresce no ataque. O quanto ela fica da altura da luta da sua vida, da sua biografia. No ataque, Dilma toma conta do palco, assim como um gigante no espaço, quando ela dá um breve recuo no corpo e avança. Eu, se fosse adversário dela, me encolheria todo quando ela começa: “Candidato….”. Me encolhia na espera da tempestade, porque o começo da fala, “candidato..” é anúncio de chumbo grosso. .

Mas esse movimento geral, que eu notei, o vulto que toma Dilma quando ela ataca com armas precisas e exatas o marketing, a farsa, poderia vir de olhos que já estão conquistados por sua candidatura. E não só por ela, candidatura. Mas outro momento que só os empedernidos cegos, contumazes surdos e obliterados do juízo não viram nem ouviram e estão vedados a notar foi este: quando ela perguntou para o candidato tucano qual era o seu programa para combater a violência contra as mulheres. As câmeras da Band, que olhavam de passagem o candidato para nós, flagraram os olhos de fera acuada, medrosa, desassossegada do adversário. Tanto que ele se perdeu, gaguejou, logo ele que no comum das suas falas é tão fluente, como se fosse um substituto do apresentador de tevê Silvio Santos, a quem lembra, pelo sorriso que virou câimbra.

Pergunta da candidata Dilma:

“Gostaria de saber agora como o senhor vê a questão da violência contra a mulher. Se o senhor olhar a questão da violência contra a mulher, o senhor seria capaz de extinguir a secretaria que as protege no Governo Federal?”

Para essa pergunta, a BBC Brasil registrou o momento de alta tensão:

“Quando Dilma Rousseff questionou Aécio Neves sobre suas políticas em relação à violência contra mulheres, a ala tucana recuou. ‘Aonde essa mulher quer chegar?’, reclamou um parlamentar a uma jornalista”.

Não informa o parlamentar. Nem muito menos informa que a tensão e o medo do tucano estavam na história da sua agressão a uma namorada, implícita na pergunta. Como neste registro na internet, que recupero:
“Governador de Minas agride namorada em festa de luxo
A moça recebeu a pancada, caiu, revidou e depois cada um foi para um lado, dizem testemunhas
Uma das testemunhas oculares da agressão perpetrada pelo governador Aécio Neves no domingo, 25 de outubro, em meio a uma festa promovida por um estilista da Calvin Klein no Hotel Fasano, do Rio de Janeiro, descreveu a cena da seguinte forma:
“Visivelmente alterado, ele deu um tapa na moça que o acompanhava – namorada dele há algum tempo. Ela caiu no chão, levantou e revidou a agressão. A plateia era grande e alguns chegaram a separar o casal para apartar a briga. O clima, claro, ficou muito pesado”.
Imagine o leitor que essa testemunha ocular é a colunista social Joyce Pascowitch, que, de repente, sem que desejasse tal metamorfose, passou de cronista de grã-finos a repórter policial. A nota de Joyce Pascowitch é intitulada “Nelson Rodrigues”, em referência ao teatrólogo que pregava que “mulher gosta de apanhar”.
A colunista social não revelou o nome do agressor. Disse que era “um dos convidados mais importantes e famosos da festa que o estilista Francisco Costa, da Calvin Klein, deu na piscina do hotel Fasano, no Rio, nesse domingo”. Embora, pelo encadeamento das notas sobre a festa, em seu blog, fosse mais ou menos claro quem era o sujeito”.

Ou segundo Juca Kfoury, no seu blog em novembro de 2009:
“Covardia de Aécio Neves – o governador tucano de Minas Gerais, que luta para ter o jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014, em Belo Horizonte, deu um empurrão e um tapa em sua acompanhante no domingo passado, numa festa da Calvin Klein, no Hotel Fasano, no Rio.
Depois do incidente, segundo diversas testemunhas, cada um foi para um lado, diante do constrangimento geral”.
E aqui, no blog do Ailton Medeiros sobre a violência contra a mulher:
“AÉCIO NEVES AGRIDE NAMORADA – BARRACO NO FASANO
Enviado em 1/11/09 às 21h31min por Ailton Medeiros
A assessoria de imprensa de Aécio Neves negou que o Senador tenha agredido a namorada Letícia Weber no Hotel Fasano, mas o jornalista Juca Kfouri ratificou a notícia.
Uma fonte deste blog conta que o barraco foi filmado por um dos presentes que agora está sendo ameaçado por assessores de Aécio.
As fotos do senador com a namorada numa praia do Sul, publicadas neste domingo por um site, foram montadas para limpar a barra de Aécio.”

O fato é que o candidato tem medo de flagrantes como este, que agora voltam com força na web, quando é flagrado bêbado e com a carteira de motorista vencida e tomada numa blitz do Detran, no Rio de Janeiro:

O que se divulga em vídeos e notícias da internet é um homem bêbado, desequilibrado, à margem da lei, mas sempre com fé no poder do dinheiro e na impunidade que acoberta a direita no Brasil.

Ontem, no debate da Band, grogue pelo golpe ele esteve no limite. Se ele perder o controle, ele ainda poderá agredir a presidenta Dilma em pleno ar, na televisão. Esperamos que não ultrapasse a linha, porque ele nem imagina o quanto Dilma cresce quando agredida, no ar, nas ruas, na história e na televisão.

Urariano Mota, escritor e jornalista. Autor do romance Soledad no Recife, sobre o assassinato pela ditadura brasileira da militante paraguaia Soledad Barret, grávida, depois de traída e denunciada por seu próprio amante o Cabo Anselmo. Escreveu também O filho renegado de Deus e seu livro mais recente é o Dicionário Amoroso do Recife. Seu primeiro livro foi Os Corações Futuristas, um romance na época do ditador Garrastazu Médici. Na juventude publicou artigos, contos e crônicas nos jornais Movimento e Opinião.

Direto da Redação é um fórum de debates, do qual participam jornalistas de opiniões diferentes, dentro do espírito de democracia plural, editado, sem censura, pelo jornalista Rui Martins.