CVM confirma vazamento de informações no caso Ambev

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Publicado quinta-feira, 6 de maio de 2004 as 19:31, por: CdB

Houve vazamento de informações privilegiadas durante a negociação das cervejarias Ambev e Interbrew. A afirmação foi feita nesta quinta-feira pelo presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Luiz Leonardo Cantidiano, na audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor para esclarecer denúncias de vazamento de informações e abuso de poder econômico na união das fabricantes de cerveja.

Cantidiano disse que pelo menos 100 pessoas no Brasil, México, Estados Unidos e Europa tomaram conhecimento da negociação antes da divulgação oficial, em 3 de março. As investigações, no entanto, não estão concluídas. A CVM ainda não sabe se essas pessoas foram beneficiadas com as informações antecipadas.
O presidente informou que a CVM está investigando todas as pessoas que compraram e venderam ações da Ambev desde janeiro 2003. No dia 1º de março, a comissão identificou que as ações da Ambev estavam sendo negociadas acima do volume normal.

Já o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça, João Grandino Rodas, disse na audiência que o órgão não comprovou, até agora, qualquer problema de concorrência com a junção das fabricantes de cerveja Ambev e Interbrew.

O diretor de Relações Corporativas da Ambev, Milton Seligman, explicou que a operação não foi de fusão: houve a aquisição, pela Ambev, da cervejaria canadense Labat, com pagamento em ações de 5,8 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 17,4 bilhões) e a troca de ações de um dos sócios da Ambev por ações da Interbrew.

Previ teve prejuízo

O diretor de Investimentos da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), Luiz Carlos Siqueira Aguiar, criticou a negociação entre as cervejarias Ambev e Interbrew.

Aguiar informou que, há um ano, a Previ possuía R$ 2,7 bilhões em ações da Ambev. Depois da fusão, o valor daquelas ações caiu. Hoje, a Previ tem o mesmo montante de ações, mas elas valem apenas R$ 2 bilhões. Assim, segundo Aguiar, o Fundo ficou com um “prejuízo potencial” de R$ 700 milhões. O prejuízo é considerado potencial porque as ações não foram vendidas, mas se desvalorizaram e continuam em poder do fundo de previdência.

Aguiar informou ainda que os controladores da Ambev não tiveram prejuízos com a negociação porque as ações ordinárias continuaram valorizadas.

Entenda o caso

No dia 1º de março, rumores fizeram as ações da Ambev subir na bolsa de valores. No dia 2, as ações mantiveram a tendência de alta. No dia 3 de março, quando a negociação entre as duas empresas foi oficializada, as ações preferenciais (dos acionistas minoritários) caíram, e as ordinárias (dos controladores e donos das cervejarias) continuaram subindo.

O deputado Renato Cozzolino (PSC-RJ), autor do requerimento para a realização da audiência, explica que o presidente do Conselho de Administração da Ambev e mentor da operação Interbrew/Ambev, Marcel Telles, foi quem mais vendeu, meses antes do anúncio, ações preferenciais da empresa que se desvalorizariam logo depois. Essas vendas atingiram cerca de R$ 160 milhões.
– As ações da Ambev tiveram comportamento duvidoso com a troca de participações com a Interbrew: enquanto os papéis ordinários subiram 6,3%, os papéis preferenciais despencaram 14,9%. O que importa é checar se os controladores usaram informações de que os acionistas não dispunham em beneficio próprio para obter ganhos – afirma o deputado.

Cozzolino lembra que essa não é a primeira vez em que surgem suspeitas contra Marcell Telles. Quando a Ambev foi criada, na negociação entre a Brahma e Antarctica, também houve rumores de vazamento de informações, que teria beneficiado três controladores da Brahma – Telles, Lemann e Sicupira.