Cuba retoma discreta negociação com o Clube de Paris para sair do isolamento

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Publicado terça-feira, 22 de abril de 2014 as 13:52, por: CdB
Uma vez retomadas as negociações com os países credores, os cubanos serão restabelecidos nos luxuosos salões do  Ópera Palais Garnier, em Paris
Uma vez retomadas as negociações com os países credores, os cubanos serão restabelecidos nos luxuosos salões do Ópera Palais Garnier, em Paris

Cuba e o Clube de Paris, que reúne nações credoras, estão empenhados em reabrir negociações sobre a bilionária dívida pública cubana, num sinal de que o governo comunista tem interesse em se reinserir na economia global. Uma delegação do Clube viajou discretamente a Havana no final do ano passado para se reunir com autoridades bancárias cubanas, que haviam preparado várias propostas e pareciam ávidas por um acordo, segundo diplomatas não cubanos.

As negociações anteriores foram abandonadas em 2000, e ainda há obstáculos para a retomada de negociações sérias, segundo os diplomatas, que pediram anonimato à agência inglesa de notícias Reuters, que publicou a notícias, nesta terça-feira, em caráter exclusivo. Segundo eles, Cuba precisaria apresentar suas contas detalhadas aos credores, algo que o governo até agora recusa. Desde 2010 o governo não divulga dados sobre sua conta corrente e dívida externa, e as reservas de divisas são tratadas como segredo de Estado.

Mesmo assim, os diplomatas encaram a disposição cubana para o diálogo como um indicativo de que o país pode estar inclinado a acatar as regras financeiras internacionais. Um acordo com o Clube de Paris – algo ainda distante – reduziria significativamente a dívida cubana, melhoria a reputação do país nos mercados financeiros capitalistas e permitiria que o governo emitisse novos títulos de dívida.

Recentemente, como parte de uma abrangente abertura econômica, Cuba aprovou uma lei destinada a trazer bilhões de dólares em investimentos estrangeiros, além de iniciar o desmantelamento do sistema monetário duplo, que também atrapalhava a entrada de capitais. Paralelamente, Havana está negociando uma nova relação bilateral com a União Europeia.

– O positivo é que Cuba mais ou menos reestruturou e cumpriu as obrigações das suas dívidas nos últimos três anos. O negativo é que eles acham que isso basta, e não entendem que precisamos saber a capacidade financeira deles de cumprirem qualquer acordo ao qual cheguemos – afirmou um diplomata.

Nos últimos três anos, Cuba reestruturou sua dívida com a China, com credores comerciais japoneses, com o México e com a Rússia, sempre obtendo reduções substanciais no valor devido. O Clube de Paris é um grupo informal composto por 19 países credores: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Holanda, Japão, Noruega, Rússia, Suécia e Suíça.

O povo primeiro

Um possível acordo com os credores internacionais, no entanto, estaria longe de prejudicar as metas do governo comunista cubano. Priorizar o desenvolvimento sustentável da pesca e da piscicultura, por exemplo, é necessário para melhorar a segurança alimentar da América Latina e do Caribe, segundo um comunicado endossado por autoridades do governo cubano. A nota da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), divulgada por seu escritório em Havana, define a opinião dos participantes da XIII Comissão de Pesca Continental e Piscicultura para América Latina e o Caribe (Copescal), realizada recentemente na Argentina.

Segundo o secretário geral da Copescal, Alejandro Flores, a pesca continental é o principal meio de subsistência de milhares de famílias da região. As comunidades ribeirinhas da Amazônia, por exemplo, dependem quase exclusivamente dessa prática para sua alimentação.

Essa é um das principais mensagens desse órgão estatutário destinada à próxima conferência regional da FAO, que será realizada entre os próximos dias 6 e 9 de maio em Santiago do Chile e fixará as prioridades para atuar na região desse organismo da ONU durante os próximos dois anos.

De acordo com Copescal, é indispensável contar com mecanismos e políticas orientadas à gestão sustentável da pesca e da piscicultura e ao planejamento multissetorial para o manejo responsável das bacias hidrográficas transfronteiriças da região.

Também recomendou à conferência da FAO- organismo que tem sua sede central em Roma- que adote medidas para difundir os benefícios nutricionais e promover o consumo dos produtos aquáticos, estimulando sua inclusão nos programas de alimentação escolar.

Sugeriu também que se apoie a piscicultura de recursos limitados e da micro e pequena empresa. Este setor precisa de acesso ao crédito, assistência técnica e mercados, comercialização e distribuição, ressaltou.