A Cruz Vermelha viu soldados norte-americanos encarcerando iraquianos nus no escuro na prisão de Abu Ghraib, em outubro passado, e ouviu de uma autoridade das agências de inteligência no local que essas ações faziam “parte do processo”, afirmou um relatório divulgado nesta segunda-feira.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (ICRC) disse ter alertado várias vezes as autoridades das forças de ocupação lideradas pelos Estados Unidos sobre práticas que “em alguns casos assemelhavam-se a torturas”. Nesta segunda-feira, foi publicado no site do The Wall Street Journal o relatório confidencial da Cruz Vermelha. O grupo reconheceu a autenticidade do documento.
O relatório de 24 páginas, concluído em fevereiro, afirma que “as pessoas privadas da liberdade enfrentam o risco de serem submetidas a um processo de coerção física e psicológica, em alguns casos semelhante à tortura, nas fases iniciais do processo de confinamento”.
Durante uma vista a Abu Ghraib em outubro passado, delegados da Cruz Vermelha viram “pessoas mantidas nuas em celas completamente vazias e no escuro”, disse o documento.
“Ao testemunhar tais casos, o ICRC interrompeu suas visitas e exigiu uma explicação das autoridades. O oficial da inteligência militar a cargo dos interrogatórios disse que tais práticas eram ‘parte do processo”‘.
A visita da Cruz Vermelha aconteceu dois meses antes de terem sido tiradas fotos de soldados norte-americanos torturando prisioneiros iraquianos. Por enquanto, sete militares foram acusados formalmente por envolvimento no caso.
As imagens apareceram nos meios de comunicação no mês passado, provocando protestos da comunidade internacional e pedidos de desculpas do presidente dos EUA, George W. Bush, e de seus assessores. O governo dos EUA disse acreditar que tais práticas eram incidentes isolados.
O secretário de Defesa do país, Donald Rumsfeld, e outras autoridades disseram só ter tido conhecimento do caso com a divulgação das fotos, em janeiro. A Cruz Vermelha havia feito seu alerta em outubro.