Crise política

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Publicado domingo, 29 de maio de 2005 as 14:49, por: CdB

Lula pode, sim, administrar bem a crise. Bastará que, voltando do Oriente, chute o balde, faça uma reforma ministerial que enxugue a administração e mande abrir os arquivos da corrupção. Haverá um grande choque, mas a Nação o reverenciará como um grande chefe de Estado.


É preciso examinar com isenção o quadro político. Podemos concluir que, para a construção da crise, governo e oposição tiveram a mesma responsabilidade. Como diziam os anarquistas que aterrorizaram a Europa na passagem do século 19 para o século 20, não há inocentes. Todos são culpados.

Como é bom começar do início, o presidente Lula pecou ao construir o governo. É difícil, quando não impossível, governar com tantos ministros. Superintendências de Assuntos de pouca importância, que poderiam ser tratados por burocratas de terceiro escalão, foram elevadas a categoria de Ministérios, como é o caso da pesca. Outro equívoco foi o de buscar um ídolo popular, o músico Gilberto Gil, para ocupar o Ministério da Cultura. Trata-se de um grande artista, mas não se trata de um bom administrador – mesmo porque o seu compromisso maior é com a arte.

Qualquer pessoa de bom senso considerará exagerado o gasto de nove milhões para a reforma de seu gabinete. Ora, quando o governo passa a sacola entre empresários, a fim de reformar o Palácio da Alvorada (outro imenso erro), como se justifica essa despesa? Não há, em Brasília, residência, por mais bem localizada e suntuosa possa ser, que valha tanto dinheiro. Por enquanto não há notícias de que o TCU tenha se manifestado sobre isso, mas é de esperar-se que isso venha a ocorrer.

Por outro lado, o presidente não tem apetite para fazer política, ou seja, para ouvir. Juscelino dedicava um dia inteiro da semana para receber os parlamentares de todos os partidos que o procurassem, sem agenda prévia. Lula não tem recebido nem mesmo os seus ministros. Há tarefas que não podem ser delegadas, e uma delas é a de líder. As pessoas sentem necessidade de serem reconhecidas pelo chefe de Estado.

Tudo isso, mais a natural vaidade de alguns de seus ministros, criaram situação difícil no Parlamento. O problema mais grave veio quando da eleição para a Presidência da Câmara. O governo levou muito tempo para entender que era difícil ajudar a reeleição nas duas casas do Congresso. Renan decidira confrontar-se com Sarney e, no PT havia candidatos fortes a substituir João Paulo. Ora, o governo, se estava – e estava, desde o início – em fazer do Sr. Luis Greenhalgh o presidente da Câmara, deveria ter avaliado bem a sua possibilidade, primeiro dentro do partido, e, depois, entre os aliados. Com todos os méritos de Greenhalgh ele não era o único, na bancada, em condições de ocupar o elevado cargo.

Mas a decisão já havia sido tomada. Assim, quando Virgílio Guimarães se pôs como candidato, se o governo avaliasse politicamente a situação, deveria ter induzido Greenhalgh à desistência, e apoiado a candidatura do mineiro ou procurado uma composição com um tertius, que poderia ser Chinaglia, Walter Pinheiro ou Sigmaringa Seixas. Resultado: o Sr. Severino Cavalcanti, com grande senso de oportunidade política, tornou-se o presidente da Casa. Outro grande erro foi quando surgiu a gravação mostrando o Sr. Waldomiro Diniz pleiteando, com humildade, um por cento para si mesmo, em certo e grande negócio. Permanece um mistério: para quem seria a parte maior da propina? Teria o Sr. Cachoeira esse nome em alguma fita? O governo deveria ter aceitado a CPI, e arrostado as conseqüências que fossem. Ao evitar a investigação, tornou-se a imagem do governo anterior.

Mas se o governo errou, errou ainda mais a Oposição. O governo não está tão débil quanto supõem seus adversários. E poderá reverter o jogo, se quiser usar dos documentos de que dispõe sobre o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso. Dizem que há um acordo prévio que impede essa devassa – mas se forem instaladas CPIs para isso, dificilmen