Cota para negros nas universidades gera polêmica

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Publicado quarta-feira, 12 de dezembro de 2001 as 04:32, por: CdB

A polêmica da cota para negros em universidades continua. A Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) já aprovou o projeto que prevê reserva de 40% das vagas na rede pública estadual. O projeto aprovado ainda passará por uma nova votação, a da redação final, por conta de uma emenda de autoria do deputado Eduardo Cunha (PPB), que inclui na cota os alunos -negros e pardos – que forem beneficiados pela lei 3524 que reserva 50 % das vagas nas universidades públicas para quem venha de escola pública.
– Se não fizéssemos isto, não sobraria nada para os brancos porque se somariam os 40% da lei com 50% da lei anterior – diz Cunha.
Para virar lei, ainda depende da sanção do Governador Antony Garotinho. O ministro da Justiça, José Gregori, também defende a adoção das cotas, mas teme que o efeito possa ser prejudicial.
A estudante de Pedagogia da Uni Rio, Alexandra dos Santos, afirma ser este projeto de lei um racismo.
– É ridículo. Não deixa de estar discriminando. Todos têm inteligência e capacidade de estudar e passar no vestibular, tanto nós negros, como as outras raças – diz.
A qualidade da rede pública do Brasil nos ensinos fundamental e médio é baixa. Alunos que deveriam repetir a série são “passados” para a seguinte a fim de evitar a evasão escolar, professores fazem greve sem reposição de aulas, há falta de pessoal e material, além de o sistema não incentivar o aprendizado.
– A educação deve ser acompanhada antes, desde criança. A falta de condições é durante toda a vida escolar. Não adianta colocar sem vestibular um aluno na faculdade sem preparo algum para a vida acadêmica – afirma Elza Feliciano, estudante de Biblioteconomia da UFF.
São poucos os negros e carentes que conseguem passar para uma boa faculdade. Geralmente eles trabalham desde cedo para ajudar na renda familiar deixando os estudos para o segundo plano.
– Essa cota deveria ser para carentes em geral. Assim evitaria que negros com condições de pagar uma universidade, como eu que estudo na Estácio, tirarem vantagem da lei. Há muitos “brancos” pobres neste Brasil de divercidades sociais e raciais – reinvindica Denise Pereira, estudante de Comunicação.
É um impasse que envolve não apenas os negros, mas toda a população brasileira que é 60% negra ou descendente de negros. Seria esta estipulação de porcentagens um racismo às avessas? Afinal, quem é negro ou branco nesse Brasil de misturas raciais? Quem não tem um parente negro? Talvez um tio, uma avó ou até tataravô. Se cada brasileiro analisar a sua árvore genealógica descobrirá uma descendência africana… Então como será definido quem é ou não negro?
Estas perguntas devem ser respondidas antes de sancionar esta lei. É preciso pensar nos prós e contras, além de criar uma regularmentação. É claro que os negros devem ser mais inseridos na sociedade, punindo o racismo, com políticas de incentivo ao trabalho e à educação. Porém, esta política não deve ser somente para os negros, e sim para a população carente em geral.