Coréia do Sul nega ter planos para bomba atômica

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Publicado sexta-feira, 3 de setembro de 2004 as 09:20, por: CdB

A Coréia do Sul não tem um programa bélico nuclear nem a capacidade para isso, e um experimento não-autorizado com enriquecimento de urânio, há quatro anos, foi o subproduto de testes para separar materiais usando raio laser, disse o governo nesta sexta-feira.

Oh Joon, diretor-geral para organizações internacionais do Ministério das Relações Exteriores, afirmou a jornalistas que o equipamento de enriquecimento foi desmontado meses depois de um único experimento destinado à separação de urânio.

– Foi um caso isolado – disse ele, acrescentando que a Coréia do Sul acreditava que a revelação não atrapalharia os esforços internacionais contra as ambições nucleares da Coréia do Norte. Negociações envolvendo seis partes (inclusive Seul) obtiveram poucos progressos até agora.

– Temos capacidade para armas nucleares? Não – disse Oh. Segundo ele, isso inclui a ausência de programas de pesquisa sobre armas ou enriquecimento de materiais.

O funcionário disse que o incidente do passado foi relatado recentemente ao governo por um cientista envolvido.

Não se sabe se os pesquisadores que fizeram o enriquecimento ilegal de urânio serão punidos ou processados, segundo Oh. O Grande Partido Nacional, o principal da oposição, questionou se o experimento foi realmente tão pontual quanto diz o governo. Oh afirmou que o urânio obtido não era tão puro quanto disseram alguns diplomatas ocidentais, mas não quis dizer se o material era adequado para o uso em bombas.

Seul noticiou o fato pela primeira vez nesta quinta-feira, e na sexta inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) completaram o trabalho de verificação dos dados revelados.
Os inspetores driblaram os jornalistas ao deixar o centro de pesquisas nucleares de Taejon, cerca de 160 quilômetros ao sul da capital.

Chun Yu-ok, porta-voz do Grande Partido Nacional, disse que a experiência pode ter violado um importante acordo com a Coréia do Norte, destinado a manter a região livre de armas nucleares.

– Ninguém vai aceitar a explicação de que os cientistas enriqueceram urânio simplesmente como experiência – disse ele.

Diplomatas ocidentais afirmaram que o trabalho realizado em um laboratório do governo produziu um urânio “muito próximo” de ser usado em armas, o que segundo eles representa uma violação do Tratado de Não-Proliferação.

Mas o diretor do laboratório de Taejon, que está no centro da polêmica, disse que o material obtido nunca poderia ter tal finalidade.

– Não posso ver o porquê de tal suspeita. O que poderia ser feito com uma quantidade tão pequena? – afirmou Chang In-soon a uma rádio.

Diplomatas e analistas dizem que a notícia pode motivar a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU) a conduzir uma rígida investigação sobre a hipótese de a Coréia do Sul ter um programa secreto de armas nucleares.

O Japão, que participa das negociações com a Coréia do Norte, reagiu com cautela, dizendo duvidar de que Seul busque armas atômicas.

– Mas, se for verdade …, é lamentável – disse o chefe de gabinete do governo, Hiroyuki Hosoda.

Washington, que também está nas negociações, pediu à aliada Coréia do Sul garantias de que não há mais enriquecimento de urânio acontecendo, mas se negou a comparar as denúncias ao que acontece na Coréia do Norte – que também nega ter um programa de beneficiamento de urânio.

A AIEA já tinha descoberto quantidades igualmente pequenas de urânio enriquecido no Irã, que apontou uma contaminação de máquinas compradas no exterior como motivo. Para os Estados Unidos, a descoberta é um sinal de que Teerã ambiciona ter bombas nucleares. O governo iraniano nega.