O governo da Coréia do Norte anunciou que está se retirando imediatamente do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
A imprensa oficial norte-coreana afirmou que, apesar da decisão, o país não pretende produzir armas nucleares.
“Nossas atividades nucleares neste estágio vão se resumir apenas a usos pacíficos, como a produção de eletricidade”, afirmou o comunicado oficial apresentando.
A reação de vários países foi dura e, na opinião de analistas, a decisão deverá ampliar ainda mais a crise na região.
Reação
No comunicado, o governo de Pyongyang acusou os Estados Unidos de estarem agredindo o país.
“Não podemos mais ficar ligados ao Tratado (de Não-Proliferação Nuclear), permitindo que a segurança do país e nossa dignidade sejam atingidas”, afirmou o governo.
Em 1993, o país se retirou do tratado, criando uma grande crise internacional, mas acabou revendo sua posição e entrando em negociações que, por fim, congelaram seu programa nuclear em 1994 e reestabeleceram o compromisso de não-proliferação nuclear.
O anúncio desta vez ocorreu no momento em que um ex-embaixador americano – Bill Richardson – mantém conversações com diplomatas norte-coreanos nos Estados Unidos para negociar uma saída para a crise.
O fato de a notícia ter sido divulgada exatamente enquanto ocorre esse encontro informal – que foi chamado de bizarro pela atual administração americana – causou surpresa.
Ainda mais porque o governo dos Estados Unidos dizem que foram os norte-coreanos que pediram a reunião.
Vários países já reagiram energicamente contra o anúncio.
O primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, afirmou que seu país exige uma rápida “retratação” do país vizinho. Koizumi está em Moscou e vai discutir com autoridades russas o tema.
A Rússia declarou que espera que a Coréia do Norte reveja sua posição de abandonar o tratado nuclear.
O ministro das Relações Exteriores da França, Dominique de Villepin, disse que “é uma decisão séria (a de abandonar o tratado), com graves conseqüências”.
O governo australiano disse que irá enviar uma delegação diplomática à Coréia do Norte para discutir o assunto.
Já a Coréia do Sul afirmou que precisa saber o que o país vizinho deseja. Os sul-coreanos defendem uma solução negociada para a crise, com conversações realizadas pelos Estados Unidos, Japão, China, Rússia e Europa, além da própria Coréia do Sul.
Dúvidas
Apesar da afirmação de que não quer produzir armas nucleares, especialistas têm dúvidas sobre as intenções norte-coreanas ao deixar o tratado e ampliar a crise que começou em outubro.
Um dos pontos que levanta suspeita é a reativação da usina nuclear de Yongbyon.
O complexo estava fora de funcionamento desde que um acordo em 1994 definiu que os norte-coreanos iriam abandonar seus projetos nucleares e, em troca, obteriam o envio de petróleo dos Estados Unidos e outros países para suprir o país.
Mas depois que os americanos afirmaram no ano passado que o país admitiu ter um programa nuclear secreto, o envio de petróleo foi cortado. E uma das respostas norte-coreana foi a reativação da usina.
O ponto que levanta suspeitas, segundo os especialistas, é que o reator de Yongbyon é considerado muito pequeno e seria pouco útil para resolver uma crise energética no país.
Porém, acredita-se que, com a reativação da usina, a Coréia do Norte seria capaz de enriquecer uma quantidade de plutônio suficiente para produzir de cinco a seis bombas nucleares até maio.
Há grandes dúvidas sobre quais são efetivamente os objetivos da Coréia do Norte com seu novo movimento.
Especula-se que os norte-coreanos estejam apenas usando a questão nuclear para barganhar vantagens no cenário internacional, como já conseguiu fazer em outras ocasiões.
Mas também há temores de que o país tenha decidido que precisa de armas nucleares para se proteger e tenha concluído que, em meio à crise no Iraque, este seja o melhor momento para fazê-lo.