Coréia do Norte anuncia saída do tratado nuclear

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado sexta-feira, 10 de janeiro de 2003 as 13:50, por: CdB

O governo da Coréia do Norte anunciou que está se retirando imediatamente do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

A imprensa oficial norte-coreana afirmou que, apesar da decisão, o país não pretende produzir armas nucleares.

“Nossas atividades nucleares neste estágio vão se resumir apenas a usos pacíficos, como a produção de eletricidade”, afirmou o comunicado oficial apresentando.

A reação de vários países foi dura e, na opinião de analistas, a decisão deverá ampliar ainda mais a crise na região.

Reação

No comunicado, o governo de Pyongyang acusou os Estados Unidos de estarem agredindo o país.

“Não podemos mais ficar ligados ao Tratado (de Não-Proliferação Nuclear), permitindo que a segurança do país e nossa dignidade sejam atingidas”, afirmou o governo.

Em 1993, o país se retirou do tratado, criando uma grande crise internacional, mas acabou revendo sua posição e entrando em negociações que, por fim, congelaram seu programa nuclear em 1994 e reestabeleceram o compromisso de não-proliferação nuclear.

O anúncio desta vez ocorreu no momento em que um ex-embaixador americano – Bill Richardson – mantém conversações com diplomatas norte-coreanos nos Estados Unidos para negociar uma saída para a crise.

O fato de a notícia ter sido divulgada exatamente enquanto ocorre esse encontro informal – que foi chamado de bizarro pela atual administração americana – causou surpresa.

Ainda mais porque o governo dos Estados Unidos dizem que foram os norte-coreanos que pediram a reunião.

Vários países já reagiram energicamente contra o anúncio.

O primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, afirmou que seu país exige uma rápida “retratação” do país vizinho. Koizumi está em Moscou e vai discutir com autoridades russas o tema.

A Rússia declarou que espera que a Coréia do Norte reveja sua posição de abandonar o tratado nuclear.

O ministro das Relações Exteriores da França, Dominique de Villepin, disse que “é uma decisão séria (a de abandonar o tratado), com graves conseqüências”.

O governo australiano disse que irá enviar uma delegação diplomática à Coréia do Norte para discutir o assunto.

Já a Coréia do Sul afirmou que precisa saber o que o país vizinho deseja. Os sul-coreanos defendem uma solução negociada para a crise, com conversações realizadas pelos Estados Unidos, Japão, China, Rússia e Europa, além da própria Coréia do Sul.

Dúvidas

Apesar da afirmação de que não quer produzir armas nucleares, especialistas têm dúvidas sobre as intenções norte-coreanas ao deixar o tratado e ampliar a crise que começou em outubro.

Um dos pontos que levanta suspeita é a reativação da usina nuclear de Yongbyon.

O complexo estava fora de funcionamento desde que um acordo em 1994 definiu que os norte-coreanos iriam abandonar seus projetos nucleares e, em troca, obteriam o envio de petróleo dos Estados Unidos e outros países para suprir o país.

Mas depois que os americanos afirmaram no ano passado que o país admitiu ter um programa nuclear secreto, o envio de petróleo foi cortado. E uma das respostas norte-coreana foi a reativação da usina.

O ponto que levanta suspeitas, segundo os especialistas, é que o reator de Yongbyon é considerado muito pequeno e seria pouco útil para resolver uma crise energética no país.

Porém, acredita-se que, com a reativação da usina, a Coréia do Norte seria capaz de enriquecer uma quantidade de plutônio suficiente para produzir de cinco a seis bombas nucleares até maio.

Há grandes dúvidas sobre quais são efetivamente os objetivos da Coréia do Norte com seu novo movimento.

Especula-se que os norte-coreanos estejam apenas usando a questão nuclear para barganhar vantagens no cenário internacional, como já conseguiu fazer em outras ocasiões.

Mas também há temores de que o país tenha decidido que precisa de armas nucleares para se proteger e tenha concluído que, em meio à crise no Iraque, este seja o melhor momento para fazê-lo.