Contrários a Aldo, petistas articulam fortalecimento de Dirceu

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Publicado quinta-feira, 17 de junho de 2004 as 14:47, por: CdB

Um movimento de parlamentares do PT articula o fortalecimento do chefe da Casa Civil, José Dirceu, com o consequente enfraquecimento do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.

O grupo de deputados, próximos ao núcleo do poder do Palácio do Planalto, incluindo o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), quer que Dirceu retome suas funções de negociador junto ao Congresso.

Eles avaliam que o chefe da Casa Civil teria mais influência e força nas articulações do que Aldo, além de ser um contrapeso ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, nas ações do governo. Deputados resumem que um Dirceu fortalecido serviria para não deixar que Palocci aprofundasse a ortodoxia econômica do governo.

– Eu não escolho com quem tenho que trabalhar. Meu interlocutor é o ministro Aldo e é com ele que eu trato os assuntos – afirmou João Paulo, insinuando que negocia com Aldo apenas porque esta é a determinação do Planalto.

A mágoa do presidente da Câmara com o ministro da Coordenação Política se remete à votação da emenda que permitiria a reeleição das mesas do Congresso. João Paulo teria ficado descontente com a atuação tímida de Aldo nas negociações para evitar a derrota do projeto na Câmara.

Apesar de Aldo ter uma ligação próxima com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os parlamentares questionam os métodos do ministro e avaliam que, por ter vindo de um partido de pouca expressão, o PCdoB, ele teria pouca mobilidade nas articulações.

Nas atuais negociações do salário mínimo no Senado, por exemplo, onde a maioria do governo é precária, as funções foram repartidas entre Aldo, Dirceu, o presidente do Senado, José Sarney, e o vice-presidente da República, José Alencar.

A atuação do chefe da Casa Civil foi defendida pela líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), afirmando que ele teria mais influência na Casa devido a seu histórico como presidente do PT.

Dirceu se afastou das funções de relacionamento do governo com o Congresso e da interlocução com governadores e prefeitos no começo do ano, quando foi realizada a primeira reforma ministerial do governo Lula, na qual foi criada a pasta da Coordenação Política. O próprio Dirceu reivindicava um auxiliar, alegando excesso de trabalho.

O ministro-chefe da Casa Civil ficou ainda mais enfraquecido após o escândalo de corrupção envolvendo um de seus assessores, Waldomiro Diniz. O ex-subchefe de assuntos parlamentares foi flagrado em uma gravação de 2002 pedindo propina a um empresário do jogo.

No Congresso, Dirceu atua por meio dos líderes do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (SP), e do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), além dos deputados Virgílio Guimarães (MG), Devanir Ribeiro (SP) e Paulo Rocha (PA), que era cotado para ocupar a vaga da Coordenação Política.

E ainda não foi descartada completamente uma troca de Aldo por Rocha, caso o ministro seja deslocado para a pasta de Defesa, atualmente ocupada por José Viegas.

O descontentamento com Aldo passa ainda pela ala mais à esquerda do PT. Nas recentes negociações para a votação do salário mínimo na Câmara, o ministro teria reagido aos dissidentes afirmando que o PT não sabe governar, por ter em seus quadros parlamentares que vão na contramão das determinações do Planalto.

Mas até o momento, os sinais emitidos pelo presidente Lula são no sentido de manutenção das atuais funções de Dirceu e Aldo.