Companhia de Martha Graham encerra turnê com espetáculo em BH

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado segunda-feira, 14 de novembro de 2005 as 20:17, por: CdB

Uma verdadeira escola da dança, ausente da programação cultural do país há quase 20 anos, a companhia passou pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Salvador e despede-se do Brasil com uma apresentação em Belo Horizonte, nesta quarta-feira. Martha Graham foi e continua sendo referência única no universo da dança em nossos tempos.

A revolução que esta norte-americana liderou a partir de 1926 à frente de sua companhia é exemplificada em seis celebradas coreografias que os brasileiros têm a oportunidade de ver nesta temporada. Em 98 anos de vida, Martha Graham criou 181 coreografias. Acts of Light – que integra o programa da turnê brasileira – foi criada quando Graham completava 80 anos de idade. A militância artística de uma mulher ousada e visionária, cuja linguagem trafega pelos desejos, medos e sentimentos domésticos do homem de seu tempo está evidenciada em toda sua obra.

– Quero falar sobre os problemas do nosso século, onde a máquina perturba os ritmos do gesto humano e onde a guerra fustigou as emoções e desencadeou os instintos – costumava dizer a coreógrafa e bailarina sobre seu método e processo criativo.

Com uma visão crítica do mundo em que vivia Martha Graham rompeu as regras convencionais da dança, criando uma técnica que sublinha a profunda relação entre respiração e movimento – fustigando ao limite o conceito contração/relaxamento. Suas coreografias enfatizam o contato do corpo com o solo, contrariando a linguagem e os parâmetros do balé clássico em seu eterno desafio à gravidade.

Ao romper moldes e estéticas tradicionais Martha Graham conquistou projeção igual a de um Pablo Picasso, de um James Joyce ou de um Igor Stravinsky. Pernas se entrelaçam e ostentam uma postura de enfrentamento e liberdade. Nada mais atual e ousado. Cada movimento é testemunho apaixonado e intenso de uma artista que viveu amor e alegria, sem esquecer o ódio e o pânico, especialmente em tempos de Segunda Guerra Mundial.

A companhia de Martha Graham, mesmo após seu falecimento em 1991, mantém o padrão de excelência artística estabelecido por ela. Cristine Dakin e Terese Capucilli, ex-estrelas que conviveram com a mestra, estiveram por vários anos à frente da companhia, especialmente nos anos mais difíceis. Janet Eilber, outra ex-estrela da MGDC, foi nomeada diretora do Martha Graham Center em 2005. Preservando seu vocabulário coreográfico, a formação atual da Martha Graham Dance Company honra o talento criador de sua mentora e o leva para novas platéias em todos os cantos do mundo.

A turnê foi organizada pela Antares com patrocínio da Petrobrás, apoio cultural da KPMG Auditores Independentes, através de incentivos fiscais do Ministério da Cultura, participação da Embaixada dos Estados Unidos, além de verba própria.