Como os EUA decidiram atacar o Iraque

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Publicado terça-feira, 31 de maio de 2005 as 10:15, por: CdB

Após 2 anos de conflito no Iraque, mesmo depois das eleições de janeiro e da formação, neste mês, do novo governo, a guerra prossegue violenta, com cenas de barbarismo, torturas e seqüestros. Neste primeiro de três artigos sobre o Iraque, procuraremos explicar as razões, e irrazões, da guerra naquele país.


O plano de ataque

A guerra no Iraque deveria ser, do ponto de vista dos estrategistas neoconservadores americanos – a força dominante na Administração Bush -, um modelo de nova guerra, da guerra que os Estados Unidos deveriam travar no século XXI. Dever-se-ia superar o pânico de um grande número de baixas – a chamada “Síndrome do Vietnã” – e, ao mesmo tempo, dispor-se a uma vigorosa ação terrestre. As duas ferramentas básicas para a nova guerra do século XXI deveriam ser (a) o uso intensivo da alta tecnologia e (b) a ação decisiva de tropas especiais, ou de elite, visando decapitar o inimigo.

O cerne da nova doutrina era o princípio de que “velocidade (entendida aqui através da intensificação tecnológica) supera a massa”. Assim, com os imensos recursos técnicos disponíveis – com um orçamento de defesa superior a US$ 400 bilhões – os Estados Unidos não precisavam dispor de um imenso dispositivo humano – o chamado “manpower” dos militares – tal como foi o caso no Vietnã (cerca de 540 mil homens) ou na Guerra do Golfo de 1991 (cerca de 500 mil homens da coalizão).

Contrariando os comandos militares, o secretário de Defesa Donald Rumsfeld – e a alma da nova doutrina militar – recusou os planos de ataque apresentados e exigiu uma invasão com pouco mais de 120 mil homens. A guerra deveria ser barata, rápida e com zero morte (do lado americano).

A nova doutrina – que muitos denominaram de Doutrina Rumsfeld – iniciava seu teste de fogo, quando através de uma série de golpes rápidos o regime de Saddan Hussein desabou. Nos dias seguintes após a queda de Bagdá o próprio secretário de Defesa apareceu em público afirmando que a guerra travada seria estudada pelos historiadores como um modelo da nova guerra tecnológica.

O retorno da guerra como instrumento político

A Doutrina Rumsfeld representava uma saída para um velho dilema americano: embora seja, de fato, a mais poderosa nação do mundo, com uma imensa panóplia militar, sua capacidade de assegurar os seus objetivos políticos são, em verdade, limitados. Na Guerra da Coréia (1951-1953) ou na Guerra do Vietnã (1964-1975), por exemplo, o poderio militar americano – inclusive seu arsenal atômico – não garantiram a vitória, levando a América a situações de grande humilhação. Tratava-se agora – após a desaparição da URSS (em 1991) do cenário mundial – de superar a paralisia estratégica que vigorara durante a Guerra Fria (1947-1991), denominada de MAD.

Em inglês MAD significava Mútua Destruição Assegurada, condição de igualdade estratégica com a URSS, que impedia que os Estados Unidos alterassem em seu favor o status quo geopólitico. O fim da URSS garantia uma nova liberdade de ação para a América. Era preciso vencer as limitações psicológicas e políticas oriundas da Guerra do Vietnã, quando a “contagem de corpos” criou tamanho choque na opinião pública que se tornou impossível dar continuidade ao esforço bélico na Indochina.

Após o Vietnã e sua “síndrome”, a América procurou evitar envolvimentos maciços em cenários complexos, talvez com exceção do Líbano e da Somália, onde mais uma vez a perda maciça de homens (num cálculo relativo ao contingente empregado) levou a rápidas retiradas. Para as administrações sucessivas depois de Nixon (1969-1973), a melhor guerra era a travada através da supremacia aérea da América, com baixíssimo envolvimento terrestre. Nas palavras do general Colin Powell, era a guerra onde “(…) nós atiramos e eles morrem!”.

Rumsfeld, tendo em vista os objetivos de ação global de tipo imperial dos Estados