Classe média gasta mais com Internet e TV a cabo do que em feijão e arroz

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Publicado quinta-feira, 8 de janeiro de 2004 as 21:09, por: CdB

O brasileiro de classe média gasta mais com vestuário, enquanto corta despesas com saúde, leitura e recreação, mas não abre mão do lazer e da informação, seja via web ou na TV a cabo. Estas despesas já são maiores no orçamento familiar do que a conta do feijão e do arroz. Estes são dados da Pesquisa sobre Orçamentos Familiares divulgada na noite desta quinta-feira pela Fundação Getúlio Vargas nas 12 principais capitais do país com 14 mil famílias com rendimentos na faixa de um a 33 salários mínimos.

De cada R$ 100 de renda, o brasileiro compromete em média R$ 1,30 com o arroz e o feijão, prato base da alimentação nacional. Enquanto isso, as despesas com internet e TV a cabo eram da ordem de R$ 1,47, na média, sendo o gasto com internet de R$ 0,57 e com a TV, de R$ 0,90.

Na renda do brasileiro, os gastos com o telefone foram ainda maiores do que com internet e TV paga. De cada R$ 100 de renda, R$ 3,60 foram parar nas tarifas de telefonia fixa e outros R$ 1,30 com a conta do celular.

O sonho de enriquecer, por meio de apostas nas loterias, também foi colocado de lado, assim como a troca de carro, que está sendo adiada.

A pesquisa refere-se aos anos de 2002 e 2003. Nesse período, o maior aumento de gastos foi com as despesas diversas (28,32%), seguido por vestuário (6,03%), alimentação (2,37%) e habitação (2,2%).

A população reduziu os gastos com transportes (-16%), saúde (-13,08%), educação, leitura e recreação (-5,31%).

Alimentação

No item alimentação, as famílias diminuíram o consumo de carne bovina, enquanto aumentaram o de carne suína, outros animais, e de pescados.

Os produtos congelados registraram queda. Por sua vez, o brasileiro demonstra estar dando preferência a lanches e pequenas refeições.

A frequência a restaurantes levava em média 2,04% da renda na pesquisa anterior (1999-2000). Na atual, diminuiu para 1,99%. Por sua vez, as despesas com idas a bares e lanchonetes subiu de 0,64% para 0,74% no comprometimento médio da renda do brasileiro.

Habitação

Já no setor de habitação, observa-se o impacto dos fortes reajustes de tarifas de eletricidade (136%), gás de botijão (220%) e telefone residencial (75%). Juntos, luz, gás e telefone representaram 11,19% dos gastos totais das famílias.

No item saúde e cuidados pessoais, a redução de 13,08% nos gastos pode ser explicada pela perda do poder aquisitivo da população. No período da pesquisa, o preço médio dos medicamentos subiu 41,75%, enquanto a inflação pelo IPC ficou em 52,27%.

Na divisão dos subitens, fica explícita a redução dos gastos das famílias com médicos, dentistas, planos de saúde, e medicamentos em geral, estes principalmente, pressionados pela entrada dos produtos genéricos no comércio.

Educação

No grupo educação, leitura e recreação, houve redução de 5,31% nos gastos, entre as duas pesquisas.

‘No período da análise dos dados, havia pressão inflacionária, a desvalorização cambial e o aumento do desemprego. Sempre que isso acontece, os principais cortes acontecem na leitura e recreação’, explicou o responsável pela pesquisa, André Braz.

No grupo transportes, dos sete itens analisados, apenas o transporte público registrou aumento de 3,52% para 4,75% no comprometimento de renda. Essa área mostra ainda que o brasileiro deixou de comprar carros novos ou usados, passando de 2,52% de sua renda, entre 1999 e 2000, para 0,61% entre 2002 e 2003.

Diversos

No item despesas diversas, que apresentou crescimento de 28,32%, o maior da pesquisa, os maiores aumentos foram com gastos com fumo (1,02% para 1,05% da renda), bebidas alcóolicas importadas (0,04% para 0,10%) ou nacionais (0,71% para 0,74%).

O sonho de enriquecer ganhando nas loterias está sendo colocado de lado pelo brasileiro. As despesas com as apostas passaram de 0,40%, em 1999-2000,