Chávez volta ao poder e recupera controle da situação na Venezuela

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Publicado segunda-feira, 15 de abril de 2002 as 00:21, por: CdB

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, retornou ao poder, na madrugada deste domingo, dois dias depois de ter sido forçado a entregar o cargo. Em pronunciamento pela televisão, ele prometeu unir o país e negou um anúncio, feito pelas Forças Armadas, na sexta-feira, de que tinha renunciado. O vice-presidente Diosdado Cabello disse que os envolvidos no movimento que havia afastado Chávez podem ser processados por conspiração e rebelião militar.

Chávez estava detido por ordens dos comandantes militares venezuelanos na ilha de Orchila. O surpreendente retorno de Chávez acontece um dia depois de milhares de venezuelanos terem ido às ruas do país para protestar contra o seu afastamento forçado. Os protestos da população levaram o líder interino do país, Pedro Carmona, a renunciar – que havia sido escolhido pelos comandantes militares para substituir Chávez.

Mas diante dos protestos e dos sinais de insatisfação entre os soldados, os comandantes das Forças Armadas também foram forçados a recuar e desistiram de apoiar Carmona. Chávez chegou ao Palácio de Miraflores sorrindo e fazendo gestos com o punho fechado. “A Venezuela não toleraria uma autocracia”, afirmou ele, já no palácio.

Inicialmente, Chávez havia sido substituído pelo empresário Pedro Carmona, com o apoio do alto comando militar, que anunciou a formação de um governo de transição, mas este foi também deposto. O afastamento de Chávez havia ocorrido na esteira de violentos protestos contra o governo, em que 12 manifestantes foram mortos. Na noite de sábado, três mil membros da Guarda de Honra Nacional – que protege o palácio presidencial e permaneceu leal a Chávez – recuperaram o controle da residência do chefe de Estado horas depois de a reúncia de Carmona ter sido oficializada. Chávez, que estava detido em um quartel, retornou ao palácio de helicóptero e foi visto cercado por guarda-costas.

Em júbilo, manifestantes favoráveis ao presidente reuniram-se em frente ao palácio, recebendo-o com bandeiras e cantando o hino nacional. Em seu discurso, Chávez disse: “Há um monte de coisas urgentes para cuidar, agora. Devemos consertar essa luz que foi cortada. Eu lanço um apelo pela paz. Eu peço força e determinação de todos os venezuelanos”.

E apesar do papel que as Forças Armadas exerceram em seu afastamento temporário, Chávez as elogiou: “As nossas forças militares … têm um coração. Eu nunca fui maltratado. Eu aprendi muito com as nossas Forças Armadas. Ouvindo o que elas tinham para dizer, senti-me novamente como um soldado”.

Chávez, que liderou uma sangrenta tentativa de golpe em 1992, goza, agora, de amplo apoio entre as classes menos favorecidas do país, muitas das quais acreditam que ele vinha enfrentando os problemas que as afligem.

Ele chegou à presidência em eleições democráticas, em dezembro de 1998, prometendo uma reforma constitucional, o fim da corrupção e a redistribuição da renda proveniente do petróleo – o país é o quatro maior exportador mundial do produto e o segundo maior fornecedor dos Estados Unidos. Washington acusou Chávez de provocar a crise, enquanto vários líderes latino-americanos, incluindo os presidentes de Peru e México, diziam que não reconheceriam o novo governo venezuelano até que eleições fossem realizadas.

Saques em Caracas
Em meio à volta de Chávez, as autoridades policiais registraram uma onda de saques a lojas nos subúrbios de Caracas, com grupos de arruaceiros aproveitando-se das manifestações nas ruas para atacar estabelecimentos comerciais.

Saqueadores justificaram suas ações afirmando que eram uma represália contra os comerciantes, que haviam acatado uma greve geral por tempo indeterminado, convocada na semana passada pelas principais organizações sindicais e empresariais do país, em protesto contra o governo de Chávez.

A greve e sucessivos choques nas ruas levaram à derrubada do presidente, na madrugada da sexta-feira, quando foi estabelecido um governo provisório. Em 72 horas, houve toda uma revi