Centro de BH é invadido por pássaros silvestres

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Publicado segunda-feira, 8 de dezembro de 2003 as 01:25, por: CdB

Tucanos em vôos rasantes, águias e gaviões alimentando filhotes no ninho enquanto bandos de maritacas fazem acrobacias, depois de se refestelarem com seus frutos prediletos. Comuns em áreas de preservação ambiental, cenas como essas vêm sendo observadas com freqüência em áreas movimentadas de Belo Horizonte, como no Hipercentro, e também em espaços urbanos de municípios vizinhos.

A ocorrência de aves silvestres, tanto na capital quanto em cidades da Região Metropolitana, chama a atenção pela variedade de espécies. A degradação do hábitat natural desses animais, provocada principalmente pela ação do homem, é um dos principais fatores apontados por especialistas para que esse tipo de fenômeno atinja proporções cada vez maiores.

Entre agosto e dezembro, período de reprodução de muitas espécies, analistas ambientais do Núcleo de Fauna da Gerência Executiva do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) em Minas Gerais são obrigados a trabalhar dobrado para atender aos pedidos de inspeção de áreas com presença de ‘aves esquisitas’, segundo a maioria das solicitações.

Para dar conta do recado, eles contam com a assessoria da Associação SOS Falconiformes, formada por profissionais preparados para lidar com aves de rapina. Criada em 1997, a associação já realizou mais de uma centena de resgates de filhotes em ninhos, a maioria de gaviões, falcões e águias.

– Todo final de ano atendemos uma média de 60 chamados – disse o diretor da SOS Falconifomes, Eduardo Pio Carvalho, frisando que a entidade tem por meta a conservação e a preservação de aves de rapina.

Segundo ele, os bairros da capital preferidos por espécies do gênero estão localizados nas regiões do Barreiro, Pampulha, Nordeste, Leste e Oeste. Na Região Centro-Sul, observa-se a presença de espécies menos agressivas, como tucanos e araras.

A missão do Ibama e da SOS Falconiformes é evitar que esses animais, embora ataquem as pessoas para defender suas crias, sejam alvo de suas ‘vítimas’.
 
– Tentamos convencer as pessoas que essas aves querem apenas se defender, além de orientá-las sobre como evitar acidentes –  disse o analista ambiental do Ibama, Daniel Vilela, revelando que gaviões e corujas com hábitos diurnos são as espécies que mais trazem transtornos à população.

De acordo com o veterinário do Ibama, Antônio Iglesias Rodriges, a remoção dos ninhos é um procedimento extremo, levado a cabo apenas quando a ameaça é real. Recentemente, um filhote de gavião-do-rabo-curto (Buteo brachyurus), espécie rara, foi recolhido de um ninho no Bairro Salgado Filho, Zona Oeste de BH, depois que os adultos atacaram vários moradores da área.

No Bairro Santa Efigênia, Zona Leste, um casal de falcão quiriquiri (Falco sparverius), que também infernizava moradores, teve os filhotes levados para o Centro de Triagem do Ibama.
 
– Esta é a forma mais eficaz para se evitar ataques – disse Rodrigues, alertando que a legislação ambiental prevê pena de detenção de seis meses a um ano, e multa de R$ 500,00 para quem danificar ninhos ou maltratar animais.

No caso de espécies em extinção, a multa sobe para R$ 5 mil.