Um cardeal bastante influente na hierarquia católica criticou o livro “O Código Da Vinci”, dizendo que é uma “grosseira e absurda” distorção da história e que as livrarias católicas deveriam tirá-lo de suas prateleiras porque é repleto de “mentiras baratas”.
Em entrevista concedida ao jornal de Milão Il Giornale, o cardeal Tarcisio Bertone tornou-se o mais alto membro da hierarquia católica italiana a fazer críticas ao livro, um best-seller internacional que já vendeu milhões de cópias.
“O livro procura desacreditar a Igreja e sua história por meio de manipulações grosseiras e absurdas”, disse ao jornal, em sua edição de segunda-feira, o cardeal Bertone, arcebispo de Gênova e amigo pessoal do papa João Paulo.
“Isso parece remeter aos antigos folhetos anticlericais dos anos 1800.”
O argumento principal de “O Código Da Vinci”, do autor norte-americano Dan Brown, é que Jesus teria se casado com Maria Madalena e tido filhos. A Bíblia diz que Jesus nunca se casou, que foi crucificado e renasceu dos mortos.
Os comentários de Bertone são significativos porque, até ser indicado pelo papa para comandar a diocese de Gênova, em 2003, ele foi durante anos o segundo em comando do departamento mais poderoso do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé.
“O livro é encontrado em toda parte, e o risco é que muitas pessoas que o lêem possam pensar que esses contos de fada são verdade”, disse o cardeal. “Acho que tenho a responsabilidade de esclarecer as coisas e desmascarar as mentiras baratas contidas num livro como esse.”
Um dos argumentos centrais do livro é que o Santo Graal na realidade não teria sido o cálice do qual Cristo teria bebido na Última Ceia, mas a linha de descendentes de Jesus e Maria Madalena. Bertone descreve essa idéia como “perversão”.
O cardeal será o principal palestrante de uma mesa-redonda que terá lugar em Gênova, na quarta-feira, para tentar desmontar “O Código Da Vinci”, que também acusa a Igreja de esconder o papel feminino na cristandade.
“Vou tentar lançar luz sobre os fatos e ajudar a formar consciências”, disse Bertone. “Acho que, diante de afirmações tão vergonhosas e infundadas, os leitores que possuam mesmo um mínimo de formação cristã básica deveriam reagir.”
Bertone disse que é triste que mesmo livrarias católicas vendam “O Código Da Vinci”, “por motivos puramente econômicos.”
Uma livraria que tem o best-seller à venda é a livraria do Hospital Gemelli, uma instituição católica onde o papa passou ao todo 28 dias em duas internações em fevereiro e março deste ano.
Na entrevista ao jornal, Bertone rejeitou incondicionalmente o argumento do livro de que o papel feminino no cristianismo sempre foi escondido.
“Essa é uma das invenções mais vulgares. O elemento feminino está presente em todos os Evangelhos”, disse ele.
Bertone também defendeu a Opus Dei, organização católica conservadora que o livro retrata como um grupo maquiavélico e implacável que não hesita em recorrer até mesmo ao assassinato para manter escondidos os segredos da Igreja.
“O Código Da Vinci” vai chegar a um público ainda maior no próximo ano, com o lançamento de um filme baseado no livro e estrelado por Tom Hanks.