Candidato cristão é favorito nas eleições na Nigéria

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Publicado quinta-feira, 17 de abril de 2003 as 14:13, por: CdB

A Nigéria, país mais populoso da África, realiza neste sábado uma eleição presidencial que será atentamente acompanhada pelo mercado de petróleo internacional. O país é atualmente o maior exportador de petróleo para o Brasil e o quinto maior fornecedor do produto para os Estados Unidos. A campanha eleitoral foi marcada por conflitos étnicos que deixaram centenas de mortos e levaram as multinacionais do petróleo a paralisarem parcialmente a produção de 2 milhões de barris diários do país.

O presidente Olusegun Obasanjo, que disputa a reeleição, é considerado o favorito, ainda mais depois da aparente vitória de seu partido nas eleições legislativas realizadas no fim de semana passado. A apuração ainda não foi concluída, mas os resultados preliminares indicam que o governista Partido Democrático do Povo, de Obasanjo, ganhou 60 cadeiras das 109 do Senado e 171 cadeiras das 360 da Câmara dos Deputados. A oposição, que teria ficado com 30 vagas no Senado e 117 na Câmara, está contestando os resultados.

O principal entre os 19 candidatos da oposição à presidência, o general Muhammadu Buhari, acusa o governo de fraude nas eleições legislativas e ameaça liderar protestos de massa, aumentando os temores de que o pleito de sábado será conturbado. Nas eleições da semana passada, pelo menos 20 pessoas morreram e, em um mês, o número de mortos supera cem. Desde que Obanjo foi eleito em 1999, pondo fim a 15 anos de regime militar, mais de 10 mil pessoas morreram em conflitos políticos, étnicos e religosos.

As eleições presidenciais de sábado serão a primeira sob um governo civil em 20 anos nesse país com 126 milhões de habitantes, 61 milhões dos quais aptos a votar. Antes de liderar o atual governo civil, o próprio Obasanjo encabeçou um governo militar entre 1976 e 1979. Ele é cristão e tem o apoio da maioria cristã da região sudoeste da Nigéria, que é dominada pelo grupo étnico Yoruba, o segundo maior do país. Seu principal rival, general Muhammadu Buhari, é muçulmano e conta com o apoio do Norte de maioria muçulmana. Para tentar atrair o voto cristão, Buhari tem como companheiro de chapa o senador cristão Chuba Okadigbo, da etnia Ibo, do sudoeste petroleiro.

O petróleo é, ao mesmo tempo, fonte da maior parte das receitas e dos conflitos na Nigéria. Descoberto no país nos anos 70, o petróleo gerou mais de US$ 250 bilhões em receitas, mas a Nigéria continua sendo um dos 20 países mais pobres do mundo, escreveu Ron Singer, no The Wall Street Journal. Segundo Singer, que acompanha de perto a situação nigeriana desde 1969, o petróleo responde por quase 90% da receita do país e é produzido nos seis estados do Sul conhecidos como o Delta do Níger.

Pela Constituição, o governo central retém 60% das receitas procedentes de recursos naturais (ou seja, petróleo) e distribui o restante aos 36 estados da Nigéria, de forma não proporcional à participação do estado na produção. Desta forma, os estados do Norte, que produzem cerca de 2% da receita do país, recebem duas vezes mais em receita de petróleo do que os estados do Delta do Níger. Para mudar esta situação, a Constituição teria de ser reformada e este tem sido um dos temas centrais da campanha eleitoral.