Brizola foi o maior ícone da esquerda

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Publicado terça-feira, 22 de junho de 2004 as 09:11, por: CdB

O ex-governador Leonel Brizola, último representante da velha esquerda no país, era um dos mais ácidos críticos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi companheiro de chapa na campanha de 1998.

Depois de apoiar Lula no segundo turno das eleições de 2002 e compor inicialmente a base aliada, o PDT de Brizola rompeu com o governo, pedindo que todos os seus membros deixassem os postos na administração federal.

Mais recentemente, Brizola esteve envolvido indiretamente em um dos maiores constrangimentos sofridos pelo presidente Lula. Ele foi citado como fonte na reportagem do jornalista norte-americano Larry Rohter, publicada no The New York Times, segundo a qual o Brasil estaria preocupado com supostos hábitos etílicos do presidente.

Cadeia e Legalidade 

Nascido em 1922 em Cruzinha (RS), Brizola desempenhou papel central na história política do Brasil, com destaque para o período anterior ao golpe de 1964 e os anos finais do regime militar, além do início da redemocratização.

Governador do Rio Grande do Sul em 1961, comandou a “cadeia da legalidade” para garantir a posse do vice-presidente João Goulart, seu cunhado, depois da renúncia de Jânio Quadros.

Os ministros militares tinham vetado a posse de Goulart, e o movimento liderado por Brizola foi fundamental para garantir a manutenção da democracia naquele momento. Como solução de compromisso, Goulart assumiu sob o sistema parlamentarista.

Durante o governo Goulart, no entanto, Brizola foi um de seus principais críticos à esquerda, pedindo que o presidente tomasse medidas radicais para contornar os problemas do país.

Com o golpe, Brizola foi cassado e acabou se exilando, primeiro no Uruguai, depois nos Estados Unidos e em Portugual. Só voltou ao país com a Lei da Anistia, em 1979.

Durante a reforma partidária do final dos anos 1970, Brizola tentou reconstruir seu antigo partido, o PTB, extinto pelo regime militar, mas perdeu na Justiça o direito de usar a sigla em uma disputa com o grupo liderado por Ivete Vargas. Acabou criando o Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Auge e Queda 

Pelo novo partido, foi eleito governador do Rio de Janeiro em 1982, após uma tentativa de fraude para evitar sua vitória, e participou ativamente da campanha pelas eleições diretas para presidente, dois anos depois.

Crítico ferrenho do “imperialismo norte-americano” e eterno defensor do não-pagamento da dívida externa, disputou a primeira eleição presidencial direta em 30 anos, em 1989, como um dos favoritos para chegar ao segundo turno. Mas ficou de fora, batido por Lula por apenas 0,5 por cento do total de votos num pleito que elegeu Fernando Collor de Mello.

No ano seguinte, Brizola foi eleito governador do Rio pela segunda vez, ganhando fôlego para disputar a Presidência novamente em 1994. Ficou em quinto lugar, com pouco mais de 3 por cento do total de votos, em uma de suas maiores derrotas.

A partir daí, foi gradativamente perdendo, junto com seu partido, espaço político. Ainda assim, quatro anos depois foi companheiro de chapa na terceira tentativa frustrada de Lula chegar à Presidência.

Nas últimas eleições, em 2002, Brizola disputou uma das duas cadeiras do Senado pelo Rio de Janeiro, mas conseguiu apenas 8,2 por cento dos votos válidos, ficando em sexto lugar.

Mas a idade avançada e as últimas derrotas eleitorais não fizeram Brizola perder habitual contundência nas críticas. No mês passado ainda, escreveu duro artigo criticando o salário mínimo de 260 reais fixado pelo presidente Lula.

“Esta decisão sobre o salário mínimo é uma espécie de epitáfio sobre as esperanças que o nosso povo trabalhador depositou em Lula