Botos da Baía de Guanabara estão entre os animais marinhos mais contaminados

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Publicado terça-feira, 11 de agosto de 2015 as 11:10, por: CdB

Por Redação, com ABr – do Rio de Janeiro:

Os botos-cinza da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, estão entre os animais marinhos mais contaminados do mundo, informa o coordenador das atividades de mamíferos aquáticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, José Lailson Brito. Ele participou, de audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio para debater a poluição na baía. Desde 1992, Brito monitora os poluentes nos organismos desses animais e os principais produtos encontrados, segundo ele, são compostos de origem industrial, muitos já banidos no país

 

O pesquisador José Lailson Brito, da Uerj, monitora os poluentes nos organismos de animais que vivem na baía
O pesquisador José Lailson Brito, da Uerj, monitora os poluentes nos organismos de animais que vivem na baía

 

– Garanto que se formos analisar o tecido adiposo, o sangue e a urina de boa parte dos que estão aqui e que eventualmente interagem com a Baía de Guanabara, que se alimentam de pescado da baía, certamente têm os mesmos contaminantes – disse.

– Esses mesmos produtos que estão lá no tecido desses animais, fazendo um efeito ruim, estão na gente. É um problema de saúde pública. O pesquisador lamentou a perda de mais um boto, vítima da poluição, notificada por uma colaborador do projeto de monitoramento. “O que acontece aqui está sendo reproduzido na Baía de Sepetiba, não aprendemos nada. A Baía de Ilha Grande vai pelo mesmo caminho”.

Presente no brasão da cidade do Rio e ícone da fauna marítima da baía, o boto-cinza é hoje um animal em extinção. De uma população de mais de 800 animais na década de 1970, com essa última morte registrada restam apenas 36. “Os botos são o retrato do que é a Baía de Guanabara, que virou um estacionamento de navios, são mais de 80 navios fundeados” disse. O oceanógrafo alertou que a poluição acústica produzida por essas embarcações também é preocupante. “O ruído debaixo d’água nas áreas de fundeio é um absurdo e espanta a fauna”.

O pesquisador também criticou a exploração sem freios do petróleo no Estado. “O pré-sal elegeu a Baía de Guanabara como o centro de operações. Há vários terminais, estaleiros, em virtude da indústria do petróleo, e uma pressão para aumentar as áreas de fundeio, algo completamente absurdo, como em áreas próximas às de proteção ambiental”, denunciou.

Para o presidente da Comissão Especial da Bahia de Guanabara, Flávio Serafini, o aumento da presença frequente de barcos da indústria do petróleo tem sido pouco discutido. “Hoje, sabemos que o perfil do uso da baía está em um processo acelerado de mudança e precisamos aprofundar as questões a respeito dos licenciamentos ambientais e estudos ambientais sobre a presença industrial ali”.

Fundador do Movimento Baía Viva, o biólogo Sérgio Ricardo também destacou os efeitos desse novo perfil da baía para os pescadores e os usuários do local. “A baía está passando por uma reindustrialização, impulsionada pelo pré-sal e, com isso, apenas 13% da superfície estão disponíveis para a atividade de pesca. Estamos determinando, por causa do pré-sal, o fim da pesca da baía. Essa é uma questão que temos que discutir”, disse. Ricardo. Ele acrescentou que estão sendo dragadas três a quatro áreas de lama do tamanho do Maracanã e que 30% desse material estão contaminados por metal pesado, segundo o Ministério Público Estadual. “É a verdadeira tabela periódica e é isso que está acabando com a pesca e com os botos. O interesse do capital é que está prevalecendo”.