Blix diz que serviços secretos exageraram

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Publicado terça-feira, 9 de março de 2004 as 18:22, por: CdB

O presidente da Comissão Internacional sobre Armas de Destruição em Massa, Hans Blix, disse que os serviços de inteligência de “muitos” países “exageraram e interpretaram mal” os indícios sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque. Blix, que presidiu a Comissão da ONU para a Vigilância, Verificação e Inspeção das Nações Unidas (Unmovic, em inglês), recebeu em Barcelona o Prêmio pela Paz da Associação para Nações Unidas na Espanha (Anue) por sua defesa pela solução pacífica dos conflitos.

O ex-chefe dos inspetores da ONU afirmou que, depois da guerra, ficou claro que as explicações dos serviços de inteligência sobre as armas de destruição em massa “eram, pelo menos, exageradas” e que os países vizinhos do Iraque “não pensavam que isto fosse um perigo”.

Na opinião de Blix, os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA “foram o ponto chave que criou todas as teorias sobre o terror” e, depois desse ataque, a tendência “era ver todas as suposições sob uma ótica aterrorizadora, e os serviços de inteligência fizeram o mesmo, confiaram demais nos indícios”.

No entanto, disse Blix, “isso não é uma desculpa para os líderes políticos; eles deveriam ter planejado perguntas mais cruciais”. Ele disse ainda acreditar que os governos que apoiaram a guerra “se equivocaram” sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, embora, segundo sua opinião, “não o fizeram de má fé”.

Blix admitiu que, em dezembro de 2002, suspeitava que o Iraque possuía armas de destruição em massa. No entanto, a medida em que avançou nas investigações, ele acabou se tornando “mais cético” e, se lhe tivessem permitido continuar com as inspeções, “é possível que teria conseguido demonstrar que não existiam essas armas”.

Na opinião de Blix, os governos que promoveram a guerra “tentaram minar o trabalho dos inspetores, porque pensavam que efetivamente havia armas de destruição em massa no Iraque”, mas não acha que a intervenção armada estivesse preparada com antecedência.

O ex-responsável pelos inspetores que atuaram no Iraque comparou os líderes políticos com “caçadores de bruxas”, porque, segundo sua opinião, “estavam tão convencidos de que existiam, que se vissem uma sombra, acreditariam que isso era a prova da existência das bruxas”.

Para Blix, a principal conseqüência política dessa atitude dos governantes é “que o povo agora tem menos confiança” em sua pessoa. Na opinião de Blix, Estados Unidos e Reino Unido não submeteram à votação do Conselho de Segurança da ONU uma resolução que permitisse o início da guerra porque sabiam que não obteriam maioria. “Pensavam que podiam fazer sozinhos, sem levar em conta a comunidade internacional”, acrescentou.

No entanto, “eles não contavam é com as conseqüências que isso teria sobre o resto do mundo, em relação à legitimidade de sua ação”, apontou Blix, que considera que a guerra do Iraque representa “uma lição para o mundo”, já que “contar com o apoio do Conselho de Segurança não é um detalhe sem importância”.

Segundo Blix, quando os inspetores deixaram o Iraque “não se podia garantir que não havia armas, mas havia suficientes dúvidas para prolongar o tempo das inspeções”. Embora os inspetores “saibam que não restava muito desarmamento para ser feito no setor nuclear”, disse, faltavam ainda algumas perguntas importantes a responder.

“Por exemplo, o Iraque tinha dito que tinha uma oferta de outro país sobre uma técnica nuclear, que dizia ter rejeitado, mas se negou a revelar que país era”, relatou Blix. “Eu diria agora que essa oferta vinha do Paquistão”.