Barjas diz que acordos para liberação de recursos era política

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Publicado terça-feira, 7 de novembro de 2006 as 20:12, por: CdB

O ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB) admitiu há pouco, em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Sanguessugas, a existência de acordos políticos para a liberação de recursos. Negri ressaltou, no entanto, que desconhecia o esquema de favorecimento das empresas privadas, com utilização ilegal das verbas do orçamento para a compra de ambulâncias.

– Não dá pra colocar nas costas do Ministério da Saúde as relações dos Vedoins (donos da Planam) com as prefeituras. O nossos compromisso era com as prefeituras -, afirmou Negri, atual prefeito de Piracicaba e ministro da Saúde de fevereiro a dezembro de 2002, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso.

Segundo ele, os convênios passavam por avaliações técnicas para adequar os pedidos dos parlamentares à realidade do orçamento. Os parlamentares e as bancadas indicavam as entidades beneficiadas com os respectivos valores. As emendas eram pagas de acordo com a disponibilidade financeira do ministério.

– O que havia era uma relação estreita com os parlamentares. Os recursos para as emendas representavam de 0,6 a 1,5% do orçamento do Ministério da Saúde. Mais de 10 mil pedidos eram feitos por ano e entre 2 a 3 mil aprovados -, calcula Barjas Negri, que foi secretário-executivo do ministério na gestão do ministro Carlos César Albuquerque, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

Nessa época, segundo Negri, o ministério cortou em 20% o número de emendas parlamentares incorporadas ao orçamento para incentivar estados e municípios a também apresentar contrapartidas aos investimentos.

– Às vezes eram realizados acordos políticos para a liberação de mais recursos. Recebi muito pleito para atender, mas isso não significava liberar. Grande parte das emendas eram aprovadas sem coloração partidária, com o critério de inclusão de municípios mais carentes -, contou Barjas Negri.

O ex-ministro disse que no início do governo Fernando Henrique Cardoso a maior parte dos recursos em saúde foram liberados para a conclusão de obras inacabadas em hospitais e postos de saúde. O financiamento de ambulância teria aumentado no segundo mandato, mas ainda assim seria inferior ao realizado no atual governo.

Um levantamento apresentado por Negri mostra que em 2002 o ministério firmou 634 convênios para a compra de ambulâncias, em um valor total de R$ 49,8 milhões. Em 2005, o número de convênios teria passado para 1.477, movimentando um total de R$ 149,9 milhões.

– O Ministério da Saúde não sabia que havia o esquema de intermediação. Nunca ouvir falar da Planam, nem conheço os Vedoin, donos da empresa -, afirmou o ex-ministro.

Sobre o empresário Abel Pereira, apontado como intermediador no esquema de favorecimento, Barjas Negri disse que o conhecia como um empresário atuante em Piracicaba, mas só o recebeu em audiência uma vez, em 2002, durante uma reunião com o prefeito de Jaciara, que reivindicava recursos para a conclusão de obras.

Perguntado sobre uma doação de R$ 15 mil, feita pela Sicat, empresa de Abel Pereira, para a sua campanha em 2004, Negri negou que os recursos tenham sido repassados como forma de beneficiamento ilegal.