Aumentam execuções de espiões palestinos

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Publicado terça-feira, 4 de novembro de 2003 as 10:42, por: CdB

Está aumentando o número de palestinos sendo capturados e mortos no Oriente Médio não pelo exército israelense, mas por seus próprios amigos e vizinhos. O caso mais recente foi o de dois jovens mortos a tiros no campo de refugiados na cidade de Tulkarm, na Cisjordânia, após serem acusados de colaborar com o Exército de Israel. Ativistas de direitos humanos palestinos dizem que mais de 70 suspeitos de espionagem foram assassinados nos últimos três anos.

Tulkarm está cercada por tropas israelenses. Dentro da cidade, os palestinos suspeitos de colaborar com os israelenses enfrentam seus próprios irmãos. Cartazes com fotos dos dois militantes palestinos mortos foram espalhados pelas paredes do campo de refugiados. Confira abaixo a entrevista da correspondente da BBC em Tulkarem, Orla Guerin, com um integrante dos grupos de extermínio palestinos.

Execução

Sou levada para uma entrevista com o homem que decidiu sobre a sentença de morte e garantiu que ela fosse executada. Ele se identifica como Abu Amsha, é um homem magro e com barba e comandante local da brigada al-Aqsa.

– O que lhe deu o direito de decidir que esses dois homens deveriam ser mortos?”, pergunto.

– Os dois colaboradores, Mohammed e Samir, mataram sete palestinos porque eles deram informação para os israelenses, o que ocasionou os assassinatos. Eles estavam me seguindo. Eu ia ser o próximo – o comandante responde.

Amsha conta como os dois homens foram mortos. “Eles foram trazidos para o campo. Foram postos de joelho e atiramos em suas cabeças e em seus corpos. É assim que Mohammed e Samir foram executados”. “Como sabemos se não houve tortura, se eles disseram qualquer coisa que vocês queriam?”, questiono o comandante. “Desde o minuto que nós capturamos Mohammed, um homem sentou com ele apenas segurando uma arma. Nós todos bebemos chá. Mohammed admitiu imediatamente o que ela havia feito e gravamos seu depoimento”, Abu Amsha diz.

Acusações de tortura

Mas a família de Mohammed afirma que ele confessou sob tortura, após 21 dias em prisão. Eles me mostram fotografias tiradas depois que o corpo de Mohammed foi encontrado. A primeira é de suas pernas, cobertas com marcas, sangue e cicatrizes.

– Eles colocaram varas de metal no fogo e fincaram nas pernas dele -a mãe de Mohammed, Masoosa, diz. – Plástico derretido foi derramado no corpo dele para queimá-lo. Mohammed estava na brigada Al-Aqsa com esses homens. Ele foi promovido e eles ficaram com ciúmes por isso que ele foi assassinado – ela afirma.

Em entrevista com Moshe Govati, assessor do Ministério do Interior de Israel e ex-comandante do exército israelense na Cisjordânia, eu pergunto se ele não tinha um sentimento de culpa sobre o fato de recrutar essas pessoas, sabendo o que poderia acontecer com elas.

– Por que nós deveríamos nos sentir assim? – Govati responde. – Se ele quer dinheiro, nós damos dinheiro. Se ele tem alguma ideologia política, é a decisão dele. Se somos bem-sucedidos em chantageá-lo, ele sabe o porquê – adiciona.

– Então você acha que eles tiveram o que mereciam? – pressiono o assessor.

– Se eu fosse um palestino, eu os odiaria até a morte – ele responde. – Mas eu sou israelense e sou ameaçado a todo momento por palestinos espalhados no país. Você tem que entender que, uma vez que um palestino aceitou em colaborar com as agências israelenses, ele sabe que não vai morrer na velhice. Ele é um traidor  eu preciso dele  mas ele é um traidor – completa. 

De volta ao campo de refugiados de Tulkarm, não demora muito para que outra pessoa seja assassinada nas ruas. Os militantes da brigada Al-Aqsa dizem que estão “investigando um outro colaborador e que ele, provavelmente, será morto nos próximos dias”.