As bandeiras de Israel estiveram presentes durante a manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo. No trio elétrico que teve Bolsonaro como protagonista, o país do Oriente Médio foi lembrado em discursos e também em oração feita pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Por Redação – de Brasília
Logo após tomar posse como diretora-executiva do Instituto Brasil-Israel (IBI), Manoela Miklos criticou o uso de bandeiras e símbolos do país israelense durante a manifestação realizada por Jair Bolsonaro (PL) no domingo. Para Miklos, a fala do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que abriu uma crise diplomática com o governo de Benjamin Netanyahu é “página virada”.
Em conversa com a colunista Mônica Bergamo, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), a representante da associação judaica reiterou a defesa da instituicão pelo estabelecimento de dois Estados.
— A extrema direita truculenta vai para as ruas carregando bandeiras, mas sem ter compromisso com a busca por uma paz duradoura na região, com os mortos, os desaparecidos e os reféns, com a complexidade de um processo de paz — afirmou Miklos à coluna.
Bandeira
As bandeiras de Israel estiveram presentes durante a manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo. No trio elétrico que teve Bolsonaro como protagonista, o país do Oriente Médio foi lembrado em discursos e também em oração feita pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Até mesmo bandeiras com estrelas de cinco pontas, que formavam um pentagrama em vez da tradicional estrela de Davi, chegaram a ser comercializadas. O vídeo de um grupo de senhoras que afirmaram vestir a bandeira de Israel por serem cristãs viralizou nas redes.
Miklos acrescentou, ainda, que o uso da imagem de Israel pela extrema direita vem de um longo processo histórico e “é maior que o próprio Brasil”, podendo ser visto também em outros países. Para ela, a instrumentalização seria pautada por um país “imaginado” pelo segmento e que buscaria atender a interesses políticos.
— Carregam a bandeira de Israel apenas pensando em si mesmo e nos seus próximos passos, enquanto tem gente sofrendo muito lá e precisando de pessoas que de fato as acolham e ajudem — pontuou Miklos, que é favorável ao fim da guerra e à criação de um Estado palestino ao lado de um Estado de Israel.
Faixa de Gaza
Com passagem por organizações e entidades como Instituto Pólis, o Instituto Alana e a Conectas Direitos Humanos, Miklos é mestre e doutora em relações internacionais e direitos humanos e já deu aulas na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
— Eu sou cria do movimento de mulheres, tenho um compromisso inabalável com a democracia e com os direitos humanos e vejo o IBI como um agente de mudança capaz de contribuir em todas essas frentes — acrescentou.
Miklos assumiu a diretoria-executiva do IBI na semana passada, dias após Lula afirmar que as ações militares israelenses na Faixa de Gaza configuram um genocídio e fazer um paralelo com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler durante o Holocausto.
Declaração
Na sexta-feira, Lula voltou a dizer que o governo de Israel está cometendo um genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza e disse que a fala da semana anterior foi mal interpretada, evitando citar a comparação diretamente. A nova declaração foi recebida com bons olhos pelo Instituto Brasil-Israel.
— É uma página virada. Quero crer que a gente está superando essa crise diplomática com possibilidades e oportunidades. O IBI quer uma solução de dois Estados. Isso é uma coisa difícil de se fazer, e Lula se compromete com essa pauta — concluiu.