Antes da ventania

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Publicado quarta-feira, 7 de dezembro de 2005 as 16:47, por: CdB

O resto do ano talvez conduza os atores políticos às necessárias reflexões, mas em fevereiro os ventos começarão a soprar com turbulência. Há, no processo eleitoral, dois fatores, que se podem confundir ou não, dependendo das circunstâncias. O fator partidário e o fator federativo. Os partidos, todos sabem disso, são amorfos e sem caráter (no sentido filosófico do que seja caráter, isto é, sem personalidade firme), mas os Estados, não. Os Estados têm história diferenciada, atividades econômicas próprias, visões particulares da vida e da política.

Começando pelo Rio Grande do Sul, que construiu sua história na fronteira com os castelhanos, não se pode comparar um gaúcho com um goiano, por exemplo, embora os dois povos tenham no pastoreio uma de suas principais atividades econômicas. Na fronteira meridional do país, os gaúchos tiveram que brigar contra os estrangeiros e contra o próprio Império, em nome de seus direitos de auto-governo. E é curioso que o Estado meridional tenha, ao longo de sua história, mais afinidade com os mineiros do que com qualquer outro povo, mesmo com os paulistas.

Mineiros e gaúchos, movidos por seus negócios, estabeleceram trilhas atravessando São Paulo e o Paraná, que percorreram durante grande parte do século 18 e do século 19. Nesse ir e vir, muitos mineiros ficaram no Rio Grande e muitos gaúchos foram para Minas, fosse para estudar em Ouro Preto (como os irmãos Vargas), fosse para fixar-se nas montanhas. Do ponto de vista intelectual esse entendimento foi mais profundo.

Érico Veríssimo procedia de uma família de Ouro Preto e o grande escritor modernista mineiro Guilhermino César passou a maior parte da vida em Porto Alegre. Como se recorda a união entre mineiros e gaúchos , formando a Aliança Liberal, decidiu a Revolução de Trinta e a consolidou em 1932.

Não obstante essa afinidade, mineiros e gaúchos conservam diferenças consideráveis. Hoje, os três Estados do Sul constituem uma região política interessante, sobretudo por se encontrarem governados por um mesmo partido, o PMDB. Requião, Luis Henrique e Rigotto podem ser muito diferentes, em sua personalidade política, mas entendem que, em benefício de sua região, destacada no país pelo desenvolvimento econômico e cultural, devem buscar entendimento comum no processo eleitoral a vir.

O PMDB vive esse momento singular, o de se diferenciar no jogo político em curso. O que o prejudicou – estar afastado dos centros de efetiva decisão do poder, por nunca haver exercido, como partido, a presidência da República – preservou-o dos desgastes nestes três mandatos presidenciais. O fato de Sarney se haver filiado ao partido não significa que o partido tenha exercido plenamente o poder, em período de transição constitucional e alianças compulsórias.

O PMDB histórico – do qual fazem parte os três governadores do Sul – não parece disposto a acolher a candidatura do Sr. Garotinho. O partido de Ulysses, Tancredo, Pedroso Horta, Franco Montoro, Martins Rodrigues e tantos outros homens sérios não se pode entregar ao comando do radialista de Campos, que faz a pregação político-evangélica que se conhece. O sr. Garotinho é tão peemedebista quanto o Sr. José Alencar é pastor da Igreja Universal, e, o Sr. Mangabeira Unger cidadão de uma só pátria.

Os ex-esquerdistas, estejam no PT, no PPS, no PSB, no PSDB, ou em qualquer dessas legendas esmaecidas pelo pragmatismo eleitoral, se encontram mais perdidos do que colegiais nas montanhas andinas. Uns perderam o rumo, outros perderam as idéias e há os que perderam a vergonha. A esperança é a de que, sobre as legendas partidárias, que nada mais significam, as forças políticas regionais possam aglutinar-se, mediante os governadores, a fim de mover-se em busca de aliança que restaure os valores republicanos.

O fato é que a Nação, desiludida, amargurada, não aceita mais um período de estagnação econômica e social. O Brasil aspira por juscelinos, que o levem a criar e a const