Annan fala a funcionários das “dores pessoais” por escândalo

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Publicado terça-feira, 5 de abril de 2005 as 18:12, por: CdB

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, falou a funcionários da entidade na terça-feira sobre as “dores pessoais” resultantes dos ataques às Nações Unidas por causa do escândalo no programa “petróleo por comida” e do envolvimento de seu filho.

– Sei que isso lançou uma sombra sobre todos nós, e vocês não têm idéia da dor pessoal que tem sido para mim como secretário-geral e como pai ter de lidar com toda essa situação – disse Annan em uma rara reunião pública com os funcionários.

– Ver a instituição à qual você dedicou a vida sendo martelada e atacada, na maioria dos casos injustamente, foi muito difícil de digerir, e posso imaginar que impacto isso teve sobre vocês e sobre o moral dos funcionários – disse.

– Também é lamentável que meu próprio filho agora pareça ter sido associado de alguma forma com este programa, e é claro que a investigação continua – acrescentou Annan.

Seu porta-voz, Fred Eckhart, disse que a declaração não se refere a nenhum fato novo na investigação.

A sessão de perguntas e respostas durou uma hora e foi realizada no saguão da Assembléia Geral, diante de algumas centenas de funcionários da ONU em Nova York. Muitos outros acompanharam a distância em outros escritórios da entidade mundo afora.

Foi a décima reunião de Annan com os funcionários desde que ele assumiu o cargo, em 1997.
Um inquérito externo sobre o programa humanitário para o Iraque, liderado pelo ex-presidente do Fed (Banco Central dos EUA) Paul Volcker, concluiu na semana passada que Annan não influenciou a entrega de um contrato da ONU para a empresa suíça onde seu filho trabalhou, mas o acusou de investigar a questão apenas superficialmente.

Annan antes se declarou “profundamente triste” por saber que seu filho, Kojo Annan, foi desleal com ele nesse assunto.

Mas, nas suas perguntas, os funcionários se concentraram mais nos problemas do mercado de trabalho do que nos de Annan. Duas questões partiram de tradutores do árabe descontentes com seus chefes.

– O sindicato dos funcionários em Nova York e em todo o secretariado global expressaram sua confiança na sua liderança. Como o senhor disse, nos orgulhamos desta organização e esperamos que ela atue para gente de todo o mundo – disse Rosemarie Waters, presidente da comissão de funcionários.

Annan afirmou que a atual crise começou em 2003, quando a ONU se dividiu a respeito da ocupação do Iraque pelos Estados Unidos, e piorou em agosto daquele ano, quando um atentado na sede da entidade em Bagdá matou 22 pessoas, inclusive o chefe da missão, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello.

O secretário-geral disse que, apesar de “importantes lapsos”, o programa “petróleo por comida” cumpriu seu objetivo de aliviar os efeitos das sanções econômicas sobre os iraquianos comuns. As sanções contra o regime de Saddam Hussein foram impostas em 1990 e duraram até 2003.
Ele disse esperar que, quando o relatório final de Volcker for divulgado, ainda neste ano, a ONU conseguirá tirar as lições necessárias, fazer as reformas de que precisa e “virar a página e seguir adiante”.