Alguns países latino-americanos presentes na Cúpula Extraordinária das Américas temem que os Estados Unidos dificultem um compromisso claro de luta contra a pobreza, ao defenderem apenas medidas econômicas de pouco alcance.
Assim disseram à EFE negociadores da Declaração de Nuevo León, o documento que os presidentes dos 34 países americanos (menos Cuba) assinarão no final da Cúpula, que será realizada na cidade de Monterrey na segunda e terça-feira.
“É um problema de enfoque”, disseram à EFE as fontes, que pediram anonimato, ao considerarem necessário que os governos do continente abordem o problema da pobreza e as ajudas ao desenvolvimento com compromissos claros em determinadas áreas.
Por exemplo, por meio do apoio aos países muito endividados ou que precisam de cooperação para aplicarem seus planos de desenvolvimento e evitarem processos de desestabilização política.
A sensação, segundo os participantes das reuniões iniciadas na quinta-feira, nas quais se negocia o documento final da cúpula, é que Washington quer destacar as medidas não tão urgentes, como as ajudas financeiras às pequenas e médias empresas.
Além disso, os Estados Unidos pretendem submeter à análise a redução dos custos das transferências de remessas enviadas pelos emigrantes a seus países e aspectos relacionados à abertura comercial.
Outros negociadores disseram que, embora não se possa dizer que existam sérias divergências, há “diferenças de parecer” sobre alguns pontos e existem ainda “parágrafos” que devem ser revisados.
Entre os países latino-americanos que defendem que esta Cúpula, convocada para debater o crescimento com eqüidade, a governabilidade democrática e o desenvolvimento social, deva discutir com mais ênfase formas de combater a pobreza estão Costa Rica e Venezuela.
Na América Latina cerca de 220 milhões de pessoas vivem em condições de pobreza e há 57 milhões de desempregados e subempregados.
“O tema (na Cúpula) é definir como se ativam os mecanismos” para resistir ao avanço dos desequilíbrios sociais na região, explicou à EFE a secretária executiva da Secretaria de Cúpulas das Américas, a chilena Irene Klinger.
Para o embaixador da Venezuela na Organização dos Estados Americanos (OEA), Jorge Valero, “se não forem empreendidas iniciativas de longo alcance”, os governos do continente continuarão “assistindo a situações como as vividas em países onde aconteceu a destituição de presidentes escolhidos por meio do voto”.
O último destes casos foi o da Bolívia, declarou, quando em outubro passado o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada teve que renunciar por causa de uma grave crise política e social.
– Esperamos que os Estados Unidos escutem a voz dos povos da América Latina e do Caribe que estão querendo superar a desigualdade – afirmou.
Também disse que seu país está “analisando a conveniência de se aprovar um instrumento político e jurídico que reúna as expectativas dos povos das Américas quanto a seus direitos econômicos, sociais e culturais”.
Explicou que poderia ser um tipo de “carta social”, ou instrumento político como a Carta Democrática Interamericana, que os países do continente acordaram estimular por causa da anterior Cúpula das Américas, realizada no Québec em abril de 2001.
A reunião de Monterrey foi convocada por causa de eventos na região como as revoltas sociais na Argentina e na Bolívia, da crise política venezuelana e da chegada ao poder de novos presidentes.
Também coincide com a grande crise no Haiti.
Os EUA rejeitaram recentemente as críticas sobre a suposta falta de interesse do presidente americano, George W. Bush, com relação à América Latina por causa de sua atenção ao problema do terrorismo e disse que esta cúpula será uma oportunidade para reafirmar seu compromisso com o crescimento econômico, a integração regional e a geração de empregos.