Alemanha investigará passado nazista de Chancelaria

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Publicado quinta-feira, 5 de maio de 2005 as 14:38, por: CdB

O passado nazista do Ministério alemão das Relações Exteriores será submetido a um exame crítico por parte de uma comissão independente de historiadores, a ser criada dentro de dois meses, segundo o ministro Joschka Fischer.

Ele afirmou a jornalistas na noite de quarta-feira que não vai se deixar levar pelas críticas de diplomatas aposentados e adversários políticos que reclamam da modificação nas honras póstumas a funcionários do ministério que foram membros do partido nazista.

“Precisamos de uma investigação completa do passado do ministério para chegarmos a bons termos com a era nazista. Ninguém aceitará menos que isso. Vamos avançar cuidadosamente, e teremos a comissão de historiadores criada antes do recesso de verão (meados do ano).”

Essa análise da história do ministério — tanto durante o regime nazista (1933-45) quanto depois — foi desencadeada por um recente livro sobre um diplomata de médio escalão chamado Fritz Kolbe.

Ele perdeu seu emprego no ministério depois da guerra e foi considerado traidor porque havia espionado para os Aliados.

Fischer, que leu o livro do jornalista francês Lucas Delattre em duas madrugadas insones, dedicou uma sala de conferências do ministério a Kolbe.

Ele também proibiu que o boletim interno do ministério faça obituários de ex-nazistas, por causa da polêmica a respeito do texto que homenageava o funcionário aposentado Franz Nuesslein, que fora promotor no regime nazista, assinou sentenças de mortes na Checoslováquia ocupada e, depois da Segunda Guerra Mundial, fez carreira na diplomacia.

Mais de 100 diplomatas alemães, aposentados ou da ativa, se sentiram indignados ao saberem que o boletim não publicaria o obituário de outro diplomata com passado nazista, Franz Krapf. Eles pagaram um anúncio fúnebre no jornal Frankfurter Allegemeine Zeitung e criticam Fischer duramente desde então.

“Minha posição de não publicar os obituários no boletim não será modificada”, disse Fischer a correspondentes estrangeiros. “A comissão histórica será equilibrada e completamente independente. Isso é algo muito importante para mim.”

As críticas dos diplomatas, que receberam ampla cobertura na imprensa conservadora, são apenas mais um dos problemas de Fischer.

Ele já foi o político mais popular do país, mas isso mudou devido à polêmica com os diplomatas e a suspeitas de desvio nas verbas arrecadadas com a concessão de vistos a turistas da Ucrânia.

Há especulações, por exemplo, sobre como o ministério vai tratar o ex-chanceler Hans Dietrich Genscher, que foi membro do Partido Nacional-Socialista durante um curto período, quando ele morrer.

Embora o passado nazista do país tenha sido objeto de atentas análises desde 1945, o Ministério das Relações Exteriores sempre evitou tocar no assunto. Os funcionários que negaram o emprego a Kolbe eram ex-nazistas.

Kolbe passou 1.600 documentos secretos dos nazistas a espiões dos EUA.