Adauto sai prestigiado após um dia de crise

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Publicado terça-feira, 21 de janeiro de 2003 as 22:20, por: CdB

Apesar das negativas de que seria demitido, Anderson Adauto viveu ontem o ritual de um ministro em risco de queda. Mas, no fim da noite, acabou mantido no cargo. Chamado para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de dar explicações sobre denúncias de envolvimento em fraudes contra a prefeitura de Iturama (MG), levou um chá-de-cadeira de duas horas do presidente, mas saiu dela ministro. A conversa – que teve a participação do vice-presidente José Alencar, do mesmo partido de Adauto, o PL – durou mais de uma hora.
Ao final da reunião, Alencar a Adauto saíram juntos do Palácio do Planalto. Lula, por sua vez, ao chegar ao Alvorada, deixou claro que Adauto, embora pudesse ter balançado, não caíra:
– Para mim, ele continua ministro e vai combater a corrupção no Ministério dos Transportes – afirmou o presidente.
Depois da reunião, o porta-voz da Presidência, André Singer, deu a versão oficial da reunião aos jornalistas:
– O ministro Anderson Adauto teve um despacho com o presidente em que tratou de assuntos como os investimentos para a recuperação de obras viárias, conclusão de estradas, participação e reequipamento do Exército para obras de recuperação da malha viária e a situação dos portos no Brasil. No despacho o presidente da República reafirmou a missão confiada ao ministro de moralizar o Ministério dos Transportes no Brasil.
Mas a verdade é que, ao longo do dia, outro deputado do PL mineiro, Ronaldo Vasconcelos, chegou a ser posto de sobreaviso para substituir Adauto. Ele está em Lisboa e conversou por telefone com Alencar e com o presidente do partido, o deputado Valdemar Costa Neto (SP). Com assessores, chegou a cogitar a antecipação da volta ao Brasil, prevista para domingo.
Ainda de tarde, depois de uma segunda rodada de telefonemas trocados com Alencar e Costa Neto, Vasconcelos desistiu de voltar de Portugal amanhã.
Durante todo o dia, Costa Neto garantiu que as denúncias são infundadas e distribuiu documentos para a defesa de Adauto. Nervoso e suando muito, garantiu que os documentos haviam sido entregues ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, antes de Lula tomar posse.
– Todos sabiam das denúncias. Entreguei para mais de 600 pessoas quando Fernando Henrique ainda era presidente – disse ele, no início da tarde.
Horas depois, Dirceu negou, por meio da assessoria, que tivesse recebido qualquer documento referente a Adauto, colocando mais óleo no que parecia ser a fritura do ministro.
O nome de Adauto aparece no relatório final de uma CPI da Câmara dos Vereadores de Iturama, quando foram investigados contratos da prefeitura em 1996. Na época, Aelton José de Freitas – aliado político do ministro e suplente de José Alencar no Senado – era prefeito.