A saga de um jovem político – Um ilusionário nos meandros do poder

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Publicado quarta-feira, 18 de dezembro de 2002 as 18:26, por: CdB

Chuva fina na cabeça, Centro de uma cidade em Minas, 9h de uma noite de 1994, andávamos tranqüilos quando ele quebrou o silêncio do otimismo que nos ganhava, revelando a ambição: “Quero fazer história”. De certa forma, cada um tem sua história, mas a frase soou como uma auto-profecia. Olhamo-nos às gargalhadas e seguimos adiante,
certos de que nosso jornal pirata estaria nas paredes de uma escola na manhã seguinte. A história de Adriano Henrique Ferrarez veio à tona, e com bons – e porque não, hilários momentos que a vida nos proporciona.

O abdome contraído, o defeito que escondia das garotas, era irrelevado na ânsia da conquista. Não se considerava feio. Certa vez ganhou uma bela menina com dois versos: “os poetas mentem, mas os poemas não”. Deus sabe lá de onde tirou isso. Foi ali que começou a escrever sua história.

Filho de uma dona-de-casa e pai verdureiro, a humildade só era esquecida quando falava, em alto e bom tom, ser uma reencarnação de Albert Einstein. Nasceram no mesmo dia – contava, orgulhoso. A paixão pela Física era outro ponto em comum com o grande ídolo. Faz ainda fórmulas e mais equações na cabeça. Não bebia, detestava o cheiro de
cerveja, o de cigarro, tudo quanto vício. Trabalhou como estagiário num banco de Muriaé (MG) e chegou a interpelar um gerente. Mais uma página de sua história, porque era simplesmente o mais novo estagiário na ocasião.

Passou no vestibular, para Física, claro, e foi morar em Viçosa. Ali, naquela cidade onde o campus da universidade é quase do tamanho do município, ele deu a grande guinada em sua vida, e o pontapé inicial para a sua saga. Dizem muitos amigos que foi depois da primeira
festa como calouro. Era abstênio, convicto. Mas como em Viçosa a bebida é a alma gêmea dos estudantes, deu-se por vencido. Nunca havia experimentado cerveja, contava. Na festa, convenceram-no a beber uma long-neck da Kaiser. Pronto. Foi o suficiente para cambalear. Com
o único banheiro da casa trancado e uma fila quilométrica à sua frente, decidiu mijar à beira de um córrego. Caiu dentro d’água, e voltou cheio de lama mais animado ainda para a festa – talvez pela água milagrosa do riacho.

O cabelo crescia, decidiu colocar uma boina – que ainda
usa com orgulho – e trocou Einstein pelo argentino Ernesto Che
Guevara. Nas páginas da História encontrou em Che a sua cara metade. Foi então que começou sua carreira política, num momento impensável. Muitos, muitos mesmo o desacreditaram. Mas ele tem estrela – para não falar que nasceu virado para a lua. Tornou-se bolsista da UFV.
Poucos estudantes o conheciam, mas já conviviam com o nome Che no vocabulário do cotidiano. E o Che ficou conhecido de vez num episódio marcante: a inauguração da Biblioteca da UFV, que custou milhões ao
governo e, dizem, também as bolsas de alunos. O diálogo de dois estudantes no dia: “Quem é aquele lá que vai falar?”; “Onde?”; “Lá no palanque, ao lado do ministro, do prefeito e do reitor?” – Era Adriano. E, com discurso peculiar, o jovem político, admirador de Einstein e Che, não poupou críticas aos ilustres no palanque.

Cheque-Mate. No dia seguinte, todos em Viçosa ouviam falar de Che, o jovem Adriano. Dizem também que foi ali, naquele episódio, que ele venceu as eleições para presidente do respeitável DCE. O resultado se confirmaria meses depois nas urnas. Tornou-se ilustre, não abandonou a boina, continuou a beber – alguns dizem também que fuma, mas não vi ainda – se é profano, não sei. Mas as belas companhias apareceram sem que Che movesse os dedos para ressuscitar os versos ginasiais.

Logo depois do repentino sucesso, a primeira polêmica. Fiquei sabendo em Juiz de Fora, quando encontrei um estudante da UFV de passeio em plena quarta-feira de um mês letivo. “O que houve?” – perguntei. “Paralisação. Toda a UFV parou porque o bandeijão subiu R$ 0,20”. Não precisei perguntar o nome do protagonista daquilo tudo. Era Adriano. E, olhem, ele conseguiu mobilizar uma das maiores universidades da Am