A objeção de consciência na construção da Paz

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Publicado quinta-feira, 19 de maio de 2005 as 01:38, por: CdB

Todo mundo diz que deseja a paz. Até Bush diz fazer guerra para conseguir a paz. Cada vez mais no mundo, cresce o número de pessoas que percebem e testemunham: a paz e a justiça nunca poderão ser alcançadas com a força das armas. Só o diálogo e o respeito ao diferente podem construir as bases de uma sociedade nova. Crentes das mais diferentes religiões e caminhos espirituais, como também pessoas que simplesmente crêem na vida e apostam no ser humano consagram-se à paz pelo caminho da “objeção de consciência”, ou seja, a decisão de negar-se a pegar em armas, no serviço militar ou em qualquer outra atividade. Como a produção de armas continua sendo um dos negócios mais rendosos do mercado internacional, quem pratica objeção de consciência continua tendo dificuldade de ser compreendido e aceito em sua opção de paz. 

Em Israel, Jonathan Ben Artzi, 20 anos, sobrinho do ex-ministro Benjamin Netanyahu, está preso por ser objetor de consciência. Ele é um dos milhares de jovens israelitas que se negam a participar das operações militares contra palestinos. Camilo Mejía, filho do famoso compositor nicaragüense Carlos Mejía Godói, está preso nos Estados Unidos. Como cidadão norte-americano, foi mandado ao Iraque em 2003. Ali não aceitou obedecer a um general que lhe passou a ordem de ameaçar física e psicologicamente um prisioneiro iraquiano, afim de obter informações. Nos EUA, mais de cinco mil jovens, objetores de consciência, tiveram seus direitos civis cassados e muitos estão presos. Durante a invasão ao Iraque, alguns jornalistas arriscaram-se a perder o emprego, mas se negaram a divulgar notícias que incentivassem o ódio e o racismo. Na Inglaterra, estudantes de Medicina se declararam em “objeção de consciência” para não praticar experiências clínicas com animais vivos. Um bispo católico confessou praticar a objeção de consciência e a desobediência civil contra a autoridade eclesiástica, se ela der ordens contrárias aos direitos humanos ou ao amor evangélico.

Cada civilização tem termos que são tabus. É comum que elementos em uma época e situação aceitos, em outra podem ser inconcebíveis. Tomemos, por exemplo, o incesto. Houve culturas que o toleravam. Para o mundo atual é uma aberração inaceitável. A objeção de consciência revela que a guerra deve ser uma coisa assim: algo que a humanidade não pode conceber como não deve transigir, hoje, com o incesto, a pedofilia, a escravidão humana, o racismo e outros crimes sem nome.

A objeção de consciência existe desde o mundo antigo quando a Igreja cristã se opôs ao serviço militar obrigatório com armas e se negava a participava do culto ao imperador, chamado de “filho de Deus”. Nos primeiros séculos do cristianismo, soldados convertidos ao Evangelho como Marcelo, Massimiliano e outros foram condenados à morte e martirizados por se negarem a pegar em armas. Entretanto, só no século XIX, escritores aprofundaram o direito das pessoas desobedecerem a uma ordem imperial ou jurídica por motivo de fé ou de consciência. Os nomes mais famosos são Henry David Thoreau que escreveu “A Desobediência Civil” e, na Rússia, Leon Tolstoi, o maior apóstolo da objeção de consciência contra ordens iníquas do Czar e do exército imperial.

No século XX, pela força da espiritualidade e pela prática da não violência, o Mahatma Gandhi deu à objeção de consciência e à desobediência civil um estatuto consagrado. Na Itália, Lanzo del Vasto o seguiu no testemunho contra o fascismo, na denúncia da tortura e dos campos de concentração. Nos Estados Unidos, o pastor Martin Luther King usou a mesma força espiritual contra o racismo e a discriminação sofrida pelos negros. No Brasil, a ditadura militar parecia ter mais medo de Dom Hélder Câmara com seu movimento de pressão moral libertadora do que dos grupos armados de esquerda.

A objeção de consciência é um direito reconhecido pela ONU que fez do 15 de maio o dia internacional dos objetores de consciência. A objeção de consciência é