A democracia petista e o pós-lulismo

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Publicado segunda-feira, 3 de outubro de 2005 as 11:18, por: CdB

O PT que começa a se formar tem como tarefa urgente resolver simultaneamente as duas crises que se colocaram para ele desde 2002: a do autoritarismo partidário e a da diluição valorativa. Raul Pont é a pessoa mais indicada para conduzi-lo em ambas as empreitadas.

O resultado mais importante do PED, o processo de eleição direta ocorrido no dia 18 de setembro, é a sintonia entre a base petista e a opinião pública brasileira. A erosão do apoio ao Campo Majoritário expresso pela perda de um terço dos seus votos, mostra que a maioria do PT e a maioria do país estão em sintonia no seu julgamento sobre a gravidade da crise. O PED mostra também que a democracia interna continua diferenciando o PT de outros partidos no Brasil. A eleição direta de dirigentes partidários pode ser uma maneira de acentuar a influência de uma opinião pública mais difusa na composição da liderança partidária e esse fenômeno tem uma importância fundamental. Ele transforma a democracia e o debate interno em forma de resolução de conflitos no interior do PT. Nesse sentido, o PED mostra que o PT. continua vivo e deve ser diferenciado dos demais partidos no Brasil.

A ausência de Lula, que não votou no dia 18, nesse processo é mais uma evidência de que começa a surgir aquilo que podemos denominar de petismo “pós-lulista”. A crise dos últimos 100 dias evidenciou um cisão que é talvez tão antiga quanto o PT. O PT é um partido de esquerda, de massas e democrático. O PED deixou bastante clara essa característica que é única na política brasileira de um partido em crise que apela para um método democrático de renovação da sua direção. No entanto, não está claro que esse elemento democrático de organização partidária está em consonância com a maneira como Lula exerce a sua liderança no PT e fora dele. A liderança exercida por Lula tem um elemento carismático e não democrático que ajudou a constituir a própria idéia de Campo Majoritário. O Campo Majoritário passa pela idéia de que a liderança do Lula no PT não é questionável, não pode ser colocada em questão. E esse não pode ser um elemento de um partido que se diz democrático. Nesse sentido, a derrota do Campo Majoritário é o começo do petismo pós-lulista.

O colapso do governo Lula nos últimos 100 dias aponta em uma direção: o governo Lula não conseguiu fazer no plano federal o que o PT fez no plano local em cidades como Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo. Realizar administrações de esquerda e participativas com amplo apoio da classe média. Esse é um dos motivos pelo qual o lulismo, nesse momento, está se separando do petismo. O governo Lula em seus 30 meses levou ao limite o processo de diluição valorativa do programa e da tradição petista. Nesse processo, ele abandou a crítica ao neoliberalismo, a idéia de democracia participativa, além de romper com áreas importantes nas quais o PT e a esquerda brasileira tem uma enorme tradição como é o caso da saúde e da reforma urbana. Em sua luta por um final digno, certos setores dentro do núcleo dirigente do governo acham que a salvação de Lula deve ser mais importante do que a sobrevivência do PT. Por outro lado, o PED mostra a rapidez da renovação petista e de que, provavelmente, o PT será capaz de resistir à derrocada da imagem de Lula.

O PT que começa a se formar tem como tarefa resolver simultaneamente as duas crises que se colocaram para ele desde 2002: a do autoritarismo partidário e da diluição valorativa. Raul Pont é a pessoa mais indicada para conduzi-lo em ambas as empreitadas. Pont se identifica com práticas mais participativas e com um histórico de ética na política. Ele tem sido um crítico constante da tentativa de diluição de partes importantes do programa petista como a crítica ao neoliberalismo e o abandono de uma política de democracia participativa. Nesse sentido, Pont parece bem posicionado para iniciar um processo de refundação do PT que recupere o seu sucesso administrativo nos anos 90 e sua relação histórica com os mov