Horror e sangue marcam sexta-feira 13 no Festival de Cannes

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Publicado sexta-feira, 13 de maio de 2005 as 15:40, por: CdB

Para marcar a passagem desta sexta-feira 13, Cannes está dando destaque ao sangue, horror e mau gosto no cinema.

Um documentário de Stuart Samuels explora o impacto de seis filmes feitos com baixo orçamento e que viraram cult depois de serem exibidos por cinemas de arte americanos em sessões da meia-noite durante os anos 1970.

Começando com El Topo (1970), do chileno Alejandro Jodorowsky, muitos dos filmes da contracultura foram fracassos comerciais até que cinemas como o Elgin, em Nova York, os resgataram do grande público e transformaram em sucessos underground.

Diretores e proprietários de cinemas entrevistados no documentário Midnight Movies: From the Margin to the Mainstream se recordam de quando centenas de espectadores formavam filas de dar a volta ao quarteirão e a fumaça dos cigarros de maconha era tanta que obscurecia as próprias telas.

“Um antro de iniquidade” foi como um dono de cinema descreveu aquelas noites.

Não apenas os espectadores compareciam para curtir o sangue, entranhas derramadas, medo e diversão, como, com o escrachado The Rocky Horror Picture Show, o público passou a adotar os figurinos dos personagens e a virar parte do próprio filme.

Nas palavras do criador de Rocky, Richard O’Brien:

– Não sonhe com ele, faça parte dele.

A maior parte desses filmes foi feita com orçamento exíguo, com estábulos fazendo as vezes de estúdios e rolos de filme juntados com fita crepe. Apenas Rocky foi uma produção maior, dotada de orçamento de 1,25 milhão de dólares. Mas mesmo esse filme, depois de inicialmente fracassar nas bilheterias, foi resgatado nas sessões da meia-noite e acabou por arrecadar pelo menos 175 milhões de dólares.

O fenômeno dos filmes da meia-noite começou com El Topo, filme ultraviolento do diretor chileno Jodorowsky, que começou com um anúncio de uma linha só num jornal americano e acabou virando ritual obrigatório para milhares de espectadores que queriam se assustar.
Também houve A Noite dos Mortos-Vivos (1968), um filme repleto de zumbis e de sangue, mas dotado de ressonâncias políticas que incluíam a Guerra do Vietnã e o assassinato do líder dos direitos civis Martin Luther King.

O diretor de Mortos-Vivos, George Romero, está em Cannes nesta sexta-feira para apresentar 20 minutos de clipes de seu novo filme, Land of the Dead.

Pink Flamingos, de John Waters, foi trash e escrachado ao extremo, tendo mostrado o ator Divine comendo fezes de um poodle.

– Um exercício de mau gosto – foi como o descreveu seu diretor.

 – Além da pornografia.

The Harder They Come (1972), de Perry Henzell, uma história violenta sobre um jovem camponês da Jamaica que faz sucesso na cidade grande, e The Rocky Horror Picture Show passaram a fazer sucesso depois de serem exibidos nas sessões da meia-noite, e o mesmo aconteceu com o perturbador Eraserhead, de David Lynch.

Mas então vieram Tubarão, Star Wars e o videocassete, e o choque e terror viraram ingredientes comuns do cinema comercial – o que, segundo o documentário, representou o fim do ritual das sessões da meia-noite.

– A morte do cinema da meia-noite é uma coisa triste – disse David Lynch.