Para analista da ONU, Brasil deve investir para reduzir pobreza

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Publicado sexta-feira, 29 de abril de 2005 as 18:47, por: CdB

O crescimento econômico por si só não basta para reduzir a pobreza no Brasil, e o governo deve investir mais em saneamento e educação, disse na sexta-feira o consultor da ONU Jeffrey Sachs.

O governo brasileiro precisa criar “espaço fiscal” para continuar pagando sua enorme dívida e aumentar os gastos públicos, apesar das elevadas taxas de juros, afirmou ele em entrevista coletiva durante uma visita destinada a incentivar o país a cumprir as metas da ONU contra a pobreza.

– A pobreza exige investimento público. Os problemas de saneamento nas cidades não serão resolvidos por um crescimento de 5%, só será um crescimento de cinco por cento com um significativo investimento público – disse Sachs, consultor do secretário-geral Kofi Annan e um dos economistas mais famosos do mundo.

Ele afirmou que o Brasil está pagando “um alto custo” por décadas de instabilidade macro-econômica e endividamento.

Quando assumiu o governo, em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometia acabar com a desnutrição que afeta cerca de 50 dos 180 milhões de habitantes do país. Mas esse esforço está sendo limitado pelo elevado custo do serviço da dívida pública, em detrimento de gastos em áreas como água potável, saneamento e educação, segundo Sachs.

O governo congelou 15 bilhões de reais em gastos públicos neste ano, para conseguir cumprir a meta de superávit primário de 4,25% do PIB, a fim de reduzir a dívida.

A taxa Selic está em 19,5%, maior valor em 18 meses, e estima-se que cada 0,25 ponto percentual a mais represente um aumento de 1,2 bilhão de reais na dívida ao longo de um ano, o que causa ainda mais cortes de gastos públicos.

Sachs elogiou as políticas econômicas ortodoxas de Lula, que, segundo ele, eliminaram o temor dos investidores de que o governo poderia declarar uma moratória. Mas ele disse não ter certeza da necessidade da atual tendência de elevação dos juros, que já dura oito meses.

– De fato tenho um ponto de interrogação a respeito disso, porque acho que a capacidade do Brasil para crescer deveria ser de cinco ou até seis por cento ao ano, e eu gostaria de estar confiante em um marco macro-econômico que possa suportar essa taxa de crescimento.