O novo sempre vem, caro Belchior

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Publicado terça-feira, 1 de novembro de 2016 as 10:07, por: CdB

O novo sempre vem, como na canção de Belchior, 70, o aniversariante da semana, por mais que você ame o passado e não veja, por mais que vote em ninguém e esteja desiludido à esquerda e à direita, por mais que você surfe na crista da onda conservadora que varre o Brasil inteiro…

Por Xico Sá – do Rio de Janeiro:

O novo sempre vem, como veio, depois da ressaca do golpismo, na voz da menina Ana Júlia, passando um pito histórico nos nobres parlamentares em Curitiba, repare que fala pedagógica sobre a ocupação das escolas… O futuro é mulher e virá com as meninas. O futuro está na classe da Ana Júlia, não na escola para formar princesas.

O novo sempre vem, Belchior
O novo sempre vem, Belchior

Por mais que sufoquem os estudantes, como na imagem deprimente dos meninos com algemas, por mais que os Mendoncinhas da vida demonizem o livre pensamento e implantem a didática do dedo-duro nos colégios. O novo sempre vem, o poeta Ademir Assunção me dá o mote e o mantra, vejo aqui na sua página, que começa por Araraquara, passa por Londrina e margeia toda São Paulo.

O novo não está na pouca idade dos jovens do MBL, o tal Movimento Brasil Livre, que agora servem de milícia informal contra as escolas ocupadas; o nome disso é fascismo, algo tão envelhecido quanto a grappa do Mussolini, vade retro, sarava, pé-de-pato da Fiesp, mangalô três vezes.

Desabafo

Desculpa o desabafo, meu caro Belchior. É que esse noticiário, o atraso em moto-continuo, se é que isso é possível, deixa a gente meio maluco. Preferia falar de amenidades, filosofia, um comentário a respeito de John. A felicidade como uma arma quente e tantas outras citações e delírios na ponte Sobral/Liverpool das afinidades eletivas.

Mas eu não estou interessado, em nenhuma teoria. Amar e mudar as coisas, me interessa mais. Como faz essa rapaziada das ocupações, mais de mil escolas no Brasil inteiro. Apesar do sufoco da polícia, do gás pimenta, lacrimogêneo, cassetetes e tantos outros efeitos morais.

Reforma do ensino médio

A grande alucinação, meu caro cearense do mundo. É suportar o dia a dia, resistir às medidas enfiadas goela abaixo. Como a reforma do ensino médio da qual tratou a menina Ana Júlia. Vale o baque e o corpo a corpo com as ditas coisas reais, vale quanto pesa a consciência na mochila.

Vale a luta e vale o beijo na ocupação do desejo. A revolução dos hormônios toda pela frente, sim, amigo Antônio Carlos Belchior, amor já é outra viagem. Bem sabemos como a vida nos violenta, na curva à direita e na curva à esquerda. Um beijo de parabéns, velho forasteiro de si mesmo, que a terra nos seja leve e até a próxima, mas não esqueça, coração, este lado para cima, cuidado, é frágil.

 

Xico Sá, é escritor e jornalista, é autor de “Se um cão vadio aos pés de uma mulher-abismo” (editora Fina Flor), entre outros livros.