Negroponte é lembrado pela guerra suja na América Latina

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Publicado sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005 as 10:03, por: CdB

John Negroponte, o novo chefe dos serviços de inteligência dos EUA, é considerado um competente administrador com experiência global, mas é lembrado na América Latina por ter feito vista grossa aos abusos de direitos humanos durante a chamada guerra suja na região.

Negroponte trabalhou como embaixador do governo norte-americano em Honduras no começo da década de 1980 e foi o homem forte do ex-presidente Ronald Reagan na América Central durante um período considerado como obscuro da política de Washington.

Nessa época, a região estava mergulhada em guerras civis. Rebeldes marxistas tinham tomado o poder na Nicarágua na revolução de 1979. Grupos rebeldes também estavam travando guerras de guerrilha em El Salvador e na Guatemala, onde governos apoiados pelos norte-americanos e seus chefes militares recorriam ao assassinato e à tortura para sufocá-los.

Durante o período de Negroponte, Honduras foi a base logística e o campo de treinamento dos “Contras”, rebeldes que lutavam para derrubar o governo de esquerda da vizinha Nicarágua.
Washington forneceu centenas de milhões de dólares ao país da América Central em ajuda militar e analistas dizem que Negroponte mentiu repetidamente a respeito das atrocidades cometidas pelas Forças Armadas de Honduras, aliadas dos EUA.

– Ele é um sofisticado pícaro – disse Larry Birns, do Conselho de Assuntos Hemisféricos, em Washington, logo que o presidente norte-americano, George W. Bush, nomeou o diplomata como chefe dos serviços de inteligência.

– O período de Negroponte em Honduras foi cheio de fingimentos e de fraudes – acrescentou.

Centenas de pessoas acusadas de serem militantes de esquerda foram mortas ou desapareceram ao ser capturadas pelo Exército hondurenho e grupos paramilitares que atuavam no país.
Muitos perderam a vida nas mãos do famoso Batalhão 3-16, que funcionava como um esquadrão da morte. Negroponte sempre negou ter conhecimento da repressão.

– Ele era uma pessoa muito bem informada e estava encarregado de uma embaixada que tinha muita importância e muita influência em Honduras. Ele sabia o que acontecia ali e, de posse dessas informações, nunca tentou impedir esses fatos – afirmou à Reuters Leo Valladares, ex-comissário nacional de Direitos Humanos de Honduras.

Segundo Valladares, conselheiros militares dos EUA e da Argentina participaram da guerra suja realizada no país.