Soldados dos EUA contestam ampliação do prazo no Iraque

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Publicado segunda-feira, 6 de dezembro de 2004 as 22:03, por: CdB

Oito soldados norte-americanos que servem no Kuweit e no Iraque abriram na segunda-feira um processo judicial contra a política de “contenção de perdas” das Forças Armadas, que os obriga a servir além do que previam os contratos que firmaram.

Os alvos da ação são o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, e outros funcionários de primeiro escalão. Os soldados pedem a liberação imediata do serviço militar, afirmando que já cumpriram os contratos.

O Exército implementou a política de “contenção de perdas” para evitar a debandada de dezenas de milhares de soldados designados para servir no Iraque e no Afeganistão ao final do seu período de comprometimento.

O cabo David Qualls disse que se alistou na Guarda Nacional no Arkansas em 7 de julho de 2003, por meio de um programa que permitia a veteranos que servissem durante um ano antes de se decidirem pelo alistamento completo. Ele afirmou que, quando decidiu deixar as Forças Armadas, um ano depois, foi proibido de regressar do Iraque para o Arkansas, onde deixou mulher e uma filha.

“Na minha opinião, é uma questão de justiça”, disse Qualls, 35, em entrevista coletiva para falar da ação, protocolada em um tribunal de Washington. “Acho que já é hora de eu voltar para a minha esposa.”

Um recente contracheque de Qualls, que está de licença nos EUA, indica que seu prazo no serviço militar foi prorrogado até 24 de dezembro de 2031.

Qualls, que disse ter apoiado a guerra no Iraque, afirmou que perdeu 80 por cento dos seus rendimentos anteriores para servir ao Exército e que agora está tendo dificuldades para pagar as prestações da casa e do carro.

“Passei os últimos nove meses naquela zona de combate. Não acho que eu esteja sendo antipatriota. Acredito ter cumprido meus deveres”, afirmou ele.

Advogados de Qualls e de outros dizem que a ampliação dos contratos à revelia dos militares é uma forma disfarçada de recrutamento obrigatório, que não existe nos EUA. A cúpula militar rejeita essa opinião.

Qualls é o único autor da ação que aceitou ter seu nome revelado. Os demais, temendo retaliações do Exército, são identificados como “John Doe” (“fulano de tal”), seguido de números de 1 a 7.

“Eu quis que as pessoas entendessem que não somos ‘fulanos de tal’ por aí. Somos gente de verdade”, disse Qualls a respeito da sua decisão de divulgar o nome.

Seis dos oito militares servem no Iraque, e os outros dois estão no Kuweit, a caminho do Iraque. Ele contrataram os advogados pela Internet ou com a ajuda de familiares nos EUA.

Qualls deve embarcar de volta ao Iraque na sexta-feira, mas o advogado Staughton Lynd disse estar esperando uma liminar que o autorize a permanecer nos EUA durante o processo.

“Quando pedimos a um jovem que arrisque sua vida, devemos a esse jovem uma explicação completa das circunstâncias que ele pode enfrentar e também sobre a duração do serviço”, disse Lynd. “Isso não foi feito aqui.”

O Pentágono, que não comentou a ação judicial, diz que, sem a política de “contenção de perdas,” o Exército, que já está sobrecarregado, seria obrigado a substituir continuamente milhares de soldados cujos contratos de alistamento expirem.