Pop ópera tem sucesso de vendas, mas puristas zombam de gênero

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Publicado terça-feira, 9 de novembro de 2004 as 22:12, por: CdB

Os puristas da música erudita não pouparam críticas quando a violinista Vanessa Mae saiu do mar de camiseta molhada para divulgar seu álbum.

Agora, porém, até Luciano Pavarotti já gravou canções pop italianas, e as grandes gravadoras vivem à procura do próximo cantor capaz de lançar uma ponte sobre o abismo entre o clássico e o pop.

Num setor que briga para manter-se rentável, a fusão entre clássico e pop, conhecida como “crossover”, é sinônimo de grandes negócios.

Os tradicionalistas podem arrepiar-se de horror diante de álbuns como os de Bond and the Opera Babes, mas os departamentos de marketing das grandes gravadoras se interessam por vendas, e a geração dos “baby boomers”, nascidos no pós-guerra, está comprando muita música.

Conhecido por suas tiradas irônicas nos concursos de talentos “Pop Idol”, da televisão, Simon Cowell acertou em cheio ao lançar Il Divo, um quarteto de cantores de ópera batizado de “Os Quatro Tenores”.

Il Divo ganhou status de platina apenas uma semana depois de lançar seu primeiro álbum, vendendo 130 mil cópias e derrubando Robbie Williams do topo da parada de álbuns.

A EMI, a gravadora de Robbie Williams e Coldplay, está lançando Keedie, que, em comunicado à imprensa, disse que “minha ambição é virar número 1 nas paradas pop e nas clássicas, de preferência ao mesmo tempo”.

O aclamado barítono britânico sir Thomas Allen disse que a comercialização da música clássica o deixa fisicamente enojado, reclamando: “Viramos uma civilização em rápido processo de decadência cultural.”

Barry McCann, diretor da EMI Classics UK, levou Vivaldi para as paradas com o violinista Nigel Kennedy e agora nutre grandes esperanças para Keedie. Ele é defensor do crossover e não apenas em função de seu potencial comercial.

– Apesar das críticas feitas à apresentação dos artistas e aos arranjos musicais, sempre vi o crossover como apenas a tentativa de levar grandes melodias ao público mais amplo possível – disse McCann à Reuters.

– O crossover vem crescendo mais de 20 por cento ao ano na Grã-Bretanha. Suas perspectivas internacionais são igualmente boas – disse McCann, que espera que Keedie poderá repetir o sucesso de outra soprano mirim, Charlotte Church.

Andrea Bocelli hoje é o artista clássico mais vendido do mundo, mas o crítico de ópera londrino Norman Lebrecht é implacável ao condenar o tenor italiano cego, sobre o qual afirma que “ele raramente canta afinado e nunca dentro do tempo”.

Bocelli, frequentemente tachado de cantor de “pop ópera” e zombado pelos fãs da ópera por seus álbuns de baladas, critica os criadores do crossover e insiste em manter separados os dois gêneros.

Mas o italiano, cujos álbuns pop vendem mais do que seus discos clássicos, sente orgulho por atrair novos fãs à ópera e disse à Reuters no fim de semana: “A imensa maioria das pessoas ouve música popular. Se você quer alcançar um público maior, precisa falar a língua dele.”