![Uma vez retomadas as negociações com os países credores, os cubanos serão restabelecidos nos luxuosos salões do Ópera Palais Garnier, em Paris](http://correiodobrasil.com.br/wp-content/uploads/2014/04/clube-de-paris.jpg)
Cuba e o Clube de Paris, que reúne nações credoras, estão empenhados em reabrir negociações sobre a bilionária dívida pública cubana, num sinal de que o governo comunista tem interesse em se reinserir na economia global. Uma delegação do Clube viajou discretamente a Havana no final do ano passado para se reunir com autoridades bancárias cubanas, que haviam preparado várias propostas e pareciam ávidas por um acordo, segundo diplomatas não cubanos.
As negociações anteriores foram abandonadas em 2000, e ainda há obstáculos para a retomada de negociações sérias, segundo os diplomatas, que pediram anonimato à agência inglesa de notícias Reuters, que publicou a notícias, nesta terça-feira, em caráter exclusivo. Segundo eles, Cuba precisaria apresentar suas contas detalhadas aos credores, algo que o governo até agora recusa. Desde 2010 o governo não divulga dados sobre sua conta corrente e dívida externa, e as reservas de divisas são tratadas como segredo de Estado.
Mesmo assim, os diplomatas encaram a disposição cubana para o diálogo como um indicativo de que o país pode estar inclinado a acatar as regras financeiras internacionais. Um acordo com o Clube de Paris – algo ainda distante – reduziria significativamente a dívida cubana, melhoria a reputação do país nos mercados financeiros capitalistas e permitiria que o governo emitisse novos títulos de dívida.
Recentemente, como parte de uma abrangente abertura econômica, Cuba aprovou uma lei destinada a trazer bilhões de dólares em investimentos estrangeiros, além de iniciar o desmantelamento do sistema monetário duplo, que também atrapalhava a entrada de capitais. Paralelamente, Havana está negociando uma nova relação bilateral com a União Europeia.
– O positivo é que Cuba mais ou menos reestruturou e cumpriu as obrigações das suas dívidas nos últimos três anos. O negativo é que eles acham que isso basta, e não entendem que precisamos saber a capacidade financeira deles de cumprirem qualquer acordo ao qual cheguemos – afirmou um diplomata.
Nos últimos três anos, Cuba reestruturou sua dívida com a China, com credores comerciais japoneses, com o México e com a Rússia, sempre obtendo reduções substanciais no valor devido. O Clube de Paris é um grupo informal composto por 19 países credores: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Holanda, Japão, Noruega, Rússia, Suécia e Suíça.
O povo primeiro
Um possível acordo com os credores internacionais, no entanto, estaria longe de prejudicar as metas do governo comunista cubano. Priorizar o desenvolvimento sustentável da pesca e da piscicultura, por exemplo, é necessário para melhorar a segurança alimentar da América Latina e do Caribe, segundo um comunicado endossado por autoridades do governo cubano. A nota da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), divulgada por seu escritório em Havana, define a opinião dos participantes da XIII Comissão de Pesca Continental e Piscicultura para América Latina e o Caribe (Copescal), realizada recentemente na Argentina.
Segundo o secretário geral da Copescal, Alejandro Flores, a pesca continental é o principal meio de subsistência de milhares de famílias da região. As comunidades ribeirinhas da Amazônia, por exemplo, dependem quase exclusivamente dessa prática para sua alimentação.
Essa é um das principais mensagens desse órgão estatutário destinada à próxima conferência regional da FAO, que será realizada entre os próximos dias 6 e 9 de maio em Santiago do Chile e fixará as prioridades para atuar na região desse organismo da ONU durante os próximos dois anos.
De acordo com Copescal, é indispensável contar com mecanismos e políticas orientadas à gestão sustentável da pesca e da piscicultura e ao planejamento multissetorial para o manejo responsável das bacias hidrográficas transfronteiriças da região.
Também recomendou à conferência da FAO- organismo que tem sua sede central em Roma- que adote medidas para difundir os benefícios nutricionais e promover o consumo dos produtos aquáticos, estimulando sua inclusão nos programas de alimentação escolar.
Sugeriu também que se apoie a piscicultura de recursos limitados e da micro e pequena empresa. Este setor precisa de acesso ao crédito, assistência técnica e mercados, comercialização e distribuição, ressaltou.