Tudo a apurar

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Publicado segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004 as 16:10, por: CdB

A imediata demissão de um alto servidor do Gabinete Civil do Planalto, e homem de confiança do governo, mostra que toda vigilância é ainda pouca, a fim de preservar o partido dos vírus da corrupção. Waldomiro Diniz ocupara um cargo importante no Rio de Janeiro, quando o chefiava a sra. Benedita da Silva, o de diretor da Loteria do Estado, e foi no exercício deste cargo que obteve recursos ilegais que – como se informa – serviram para o financiamento da campanha de Geraldo Magela, no Distrito Federal, e à reeleição da própria governadora.

O governo agiu com rapidez. Em casos como esses, se a suspeita tem algum fundamento, o que se deve fazer é demitir sumariamente o servidor envolvido, e, quanto mais alto for o seu cargo, com mais rapidez. Se, mais tarde, comprovar-se sua inocência, que reparações se façam à sua honra. A dignidade do governo não pode ser posta em dúvida.

Estranha-se, no entanto, a velocidade com que o PSDB – logo o PSDB! – se assanhou para pedir uma CPI. Por que, cabe a pergunta inocente, o mesmo partido não atuou com a mesma ira cívica e moral, a fim de favorecer a constituição de comissões parlamentares de inquérito a fim de apurar danos muito mais graves à República? Por que não admitiu que se investigasse a corrupção de parlamentares, no caso notório da emenda da reeleição? Por que, com o aval confesso de seu chefe, o presidente Fernando Henrique Cardoso, os tucanos impediram a CPI dos Bancos a fim de apurar o escândalo do Banco Econômico e do Banco Nacional? Vêm agora as suas vestais, escondendo as manchas nas dobras da túnica,reclamar o inquérito parlamentar. Fez bem o senador Tião Vianna, ao endossar a constituição da CPI. E fará melhor o governo apurando a responsabilidade de todos, não só de Waldomiro Diniz, como da ex-governadora e do ex-candidato a governador do Distrito Federal, se essa responsabilidade houver (o que é ainda muito duvidoso) e atuar com a mesma severidade. Um partido que exclui de seus quadros os opositores à linha de governo não pode perdoar os que transgridam a ética, que foi, sempre, a mais elevada bandeira dos trabalhadores.

Em seguida a isso, o PT terá toda a autoridade moral para reclamar a retomada de investigações sobre o governo passado. Mesmo que, em alguns casos, a punição penal possa estar prescrita, é importante que a cidadania saiba o que faziam os catões emplumados e embicados que hoje grasnam reclamando investigações.

Os homens podem ser de esquerda ou de direita, conservadores ou progressistas, socialistas ou neoliberais. O que não podem é roubar do povo que trabalha e paga os seus impostos. E, menos ainda, tomar dinheiro dos que infringem a lei, como é o caso dos bicheiros. Quem toma dinheiro da chamada “contravenção” não hesitará em tomá-lo, amanhã ou depois, dos narcotraficantes, dos seqüestradores e dos assaltantes à mão armada. Já é hora de acabar com a corrupção e com a concussão, colocando na cadeia os seus agentes.

Mauro Santayana, jornalista, é colaborador do Jornal da Tarde e do Correio Braziliense. Foi secretário de redação do Última Hora (1959), correspondente do Jornal do Brasil na Tchecoslováquia (1968 a 1970) e na Alemanha (1970 a 1973) e diretor da sucursal da Folha de S. Paulo em Minas Gerais (1978 a 1982). Publicou, entre outros, “Mar Negro” (2002).