Colômbia se destaca no festival

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Publicado quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004 as 00:43, por: CdB

María, Ilena de Gracia, um filme sobre as mulas – nome dado às pessoas que transportam drogas da Colômbia para outros países-, foi uma das principais atrações desta quarta-feira no Festival de Berlim.

O diretor estreante Joshua Marston mostrou a segunda dose do cinema jovem da América Latina no Festival de Berlim, depois da excelente recepção à produção El Abrazo Partido, do argentino Daniel Burman.
A história da moça grávida, que se torna uma mula como tantas outras colombianas para fugir da pobreza e entra nos Estados Unidos com 62 cápsulas de droga no estômago, não tem o ritmo ágil nem a carga de otimismo vital de seu predecessor argentino.

É um filme dramático – como é obrigação do tema – sobre mulheres dispostas a arriscar mais do que uma ida à prisão para sair da miséria, e que em algumas ocasiões pagam essa decisão com sua vida.

“Meu filme é a síntese de muitas histórias que escutei de mulheres colombianas em Nova York”, explicou Marston.

Ao lado do grupo de mulas formado por María e outras moças de sua cidade, Marston apresenta no filme uma série de personagens igualmente saídos da vida real, como Don Fernando, uma espécie de “one-man-show” da colônia colombiana em Nova York.

María, Ilena de Gracia retrata a aprendizagem dessas meninas engolindo cápsulas, a tortura de voar pelos EUA com uma carga no estômago que pode ser mortal e esse olhar de desconfiança da polícia que “todo colombiano sente ao passar por uma fronteira, embora nunca tenhamos tido nada a ver com a droga”, explicou a atriz.

No entanto, um dos pontos fraco desta produção americano-colombiana -filmada principalmente no Equador e não na Colômbia “por razões de segurança”- é a falta de excessiva ingenuidade em seu tratamento.
Mas esse ponto de inexperiência dá um frescor especial à produção e a coloca no lado oposto do cinema pretensioso que muitas vezes ocupa a seção oficial do festival.

María foi o melhor filme de um dia que incluiu o fraco The Final Cut, de Omar Naim, com Robin Williams dando vida a um técnico que tenta reconstruir o passado de sua prestigiosa clientela, graças a um chip que as pessoas carregam desde seu nascimento e do qual podem se apagar as memórias ruins.

O estreante Naim não consegue atrair o público com seu filme, que também traz uma irreconhecível Mira Sorvino.

Pior ainda foi a recepção ao filme Die Nacht Singt Ihre Lieder, do alemão Romuald Karmakar, primeiro filme do país em disputa a ser exibido e que é baseado em uma peça teatral do norueguês Jon Fosse.

A produção, que o diretor germânico-iraniano acredita estar enquadrada no espírito de Rainer W. Fassbinder, conta a história de um jovem casal formado por um homem depressivo e uma mulher frustrada pela apatia de seu marido.

Tal tragédia não tocou os espectadores, que a partir de certo momento começaram a tomar as reclamações da mulher como piada e reagir com gargalhadas a seus constantes lamentos.

Os risos vieram acompanhados por alguns abandonos da sala e, posteriormente, vaias.

Karmakar respondeu com agressividade à insolência do público por não ter conseguido captar o propósito do filme. “Acontece que os jornalistas vêem muito cinema americano. E isso é muito dramático, não é para rir”.

Um jornalista chegou a perguntar ao diretor se sua nova obra fazia parte do “cinema negro alemão”. “Tudo isto é primitivo, estou cheio disso”, exaltou Karmikar ao responder a mais perguntas sobre o teor de sua obra. Ele chegou a ameaçar deixar a entrevista coletiva.

Ele argumentou que um festival tem que mostrar de tudo, não só o cinema comercial, e assegurou que estava acostumado a ser um “incompreendido”.

A obra é um mau início para o cinema alemão nesta edição do Festival de Berlim, que no último ano serviu de catapulta internacional Adeus, Lenin, premiada comédia de Wolfgang Becker que fez com que muitos anunciassem o “renascimento” do cinema do país