Líder comunitário é morto em Minas Gerais

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Publicado quinta-feira, 1 de janeiro de 2004 as 09:21, por: CdB

Oito famílias foram expulsas pelo tráfico de drogas no Bairro Durval de Barros, em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e o Centro Social, que atende crianças e adolescentes em situação de risco, também pode ser fechado por causa da ameaça dos traficantes.

O motivo é o medo e o terror implantado pelas quadrilhas, após a execução do vice-presidente do Centro Social, Oswaldo Rocha Santana, 46 anos. Ele foi morto com 13 tiros na noite de segunda-feira passada, na porta da entidade que dirigia há seis anos. Osvaldo foi enterrado ontem no Cemitério da Glória, em Contagem, onde estiveram cerca de 100 pessoas, principalmente familiares de crianças e adolescentes assistidas pelo Centro Social.

“Oswaldo foi morto pelos bandidos porque retirava adolescentes que estavam vendendo drogas ou que corriam o risco de serem mortas em tiroteios para aprender um curso profissionalizante”, declarou Célio Moreira, que trabalhava como voluntário no Centro Social. Em dois meses é o terceiro assassinato de lideranças comunitárias que atuavam na Região Metropolitana de BH.

Os autores são traficantes que sentem ameaçados, conforme relato de moradores destas comunidades, entre elas o Taquaril e Zilah Spósito. A execução de Oswaldo Rocha poderá deixar órfãos cerca de 200 crianças e adolescentes que eram assistidas pelo Centro Social com cursos de cabeleireiro, de informática, corte e costura e sapateiro.

Tudo porque a mulher de Oswaldo Rocha, Tânia Maria Santana, grávida de seis meses, levou um tiro nas nádegas e com medo de ser morta, decidiu se mudar da Avenida Madureira, onde funciona o Centro Social. Nesta entidade funcionava ainda uma pré-escola que atendia 25 crianças. Tânia era uma das coordenadoras do projeto.

Segundo os moradores, Tânia Maria era braço direito do marido Oswaldo Rocha. A mudança foi feita ontem, poucas horas antes de ela receber alta do Hospital Belo Horizonte. “Ele era chamado de Tio Oswaldo pelas crianças e nas férias de dezembro ele organizou excursões sociais para os estudantes que estavam desocupados conhecerem o Parque das Mangabeiras, Zoológico e o Parque Fernão Dias”, lembra Célio Moreira. Ele admite estar ‘está com medo das ameaças dos bandidos’, mas afirma não pretender abandonar o projeto.

Segundo ele, as lideranças do Durval de Barros vão tentar um outro espaço para que o projeto continue atendendo a comunidade. Para Célio Moreira, no Centro Social foi montada uma biblioteca com 4,5 mil livros que foram doados através de pedidos feitos por Oswaldo Rocha. Célio lembra que ainda que em 2003 o projeto de informática foi premiado pela Associação dos Usuários e Empresas de Informática e Telecomunicações de Minas Gerais (Sucesu).

“Ele ia nos campos de futebol e buscava as crianças em casa para fazer os trabalhos de escola”, declarou a presidente do Centro Social, Maurília Ribeiro de Abreu. Por causa da morte de Oswaldo Rocha, ele não sabe se terá coragem de continuar o projeto. Ela também acredita que seu colega tenha sido assassinado pelos traficantes.

“O meu filho estava envolvido com o tráfico de drogas, mas depois ter iniciado um curso de informática no Centro Social virou outra pessoa. Agora eu tenho medo de os traficantes levarem meu filho para a bandidagem”, declarou A.S.D, que mora no Durval de Barros, e que ontem foi ao enterro. “Os bandidos executaram não só um homem. Eles acabaram com uma história de vida, de exemplo de cidadania que servia para suprir a ausência do estado nas regiões mais carentes do estado”, declarou o irmão de Tânia, Oswaldo Santana.

Tráfico executa líderes comunitários

As lideranças comunitárias têm sido vítimas do tráfico de drogas nas vilas e favelas da capital. No dia 11 de outubro foram executadas no Taquaril, na Região Leste da capital, a líder comunitária Marli de Cássia Mota Almeida, 48 anos, e sua filha, Simone Cássia de Almeida, 24 anos. Elas foram retiradas de casa e fuziladas com vários tiros.

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