Iraquianos protestam contra os EUA

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Publicado sábado, 26 de abril de 2003 as 16:26, por: CdB

Centenas de iraquianos realizaram protestos acalorados contra os Estados Unidos neste sábado, em Bagdá, em resposta à explosão que destruiu um gigantesco depósito que guardava armas do regime de Saddam Hussein, confiscadas pelas tropas da coalizão anglo-americana.

A explosão destruiu pelo menos quatro casas, fazendo inúmeras vítimas. Os iraquianos afirmaram que pelo menos 14 pessoas morreram; o Comando Central norte-americano confirmou seis vítimas fatais.

A Comissão Internacional da Cruz Vermelha informou ter visitado dois hospitais, para onde as vítimas foram levadas, e disse ter visto pelo menos seis mortos e mais de 50 feridos.

Militares norte-americanos alegaram que a explosão, no bairro de Zafraniya, a seis quilômetros do centro de Bagdá, foi causada de propósito por um homem, que disparou fogos de artifício contra o depósito.

Segundo o Comando Central, um soldado norte-americano ficou ferido no tiroteio com “um número desconhecido de indivíduos” que atacaram as forças que vigiavam o depósito.

Moradores de Zafraniya expressaram revolta com a explosão, lembrando que já haviam alertado as tropas dos Estados Unidos, diversas vezes, sobre os riscos que o arsenal representava para o bairro.

O arsenal estava armazenado em uma antiga base militar iraquiana.

“A localização do depósito, perto da população civil, é mais um exemplo do descaso do antigo regime com a segurança dos civis iraquianos”, sustentou o Comando Central, por meio de um comunicado.

Soldados entraram na área residencial de Zafraniya para ajudar a remover os destroços de uma das casas que desabaram em virtude da explosão. Todo o quintal foi reduzido a uma gigantesca cratera, com três metros de profundidade e oito metros de largura.

As forças norte-americanas, assim como a equipe da CNN que estava no local, foram hostilizadas pelos iraquianos.

Um homem foi retirado com vida dos escombros, mas os soldados norte-americanos também resgataram um corpo.

Segundo testemunhas, as explosões começaram às sete da manhã (horário local) e duraram várias horas, repetindo-se em intervalos regulares.

O correspondente da CNN em Bagdá, Nic Robertson, informou que, em determinado momento, as explosões continuaram por cerca de 30 minutos ininterruptos.

“Os reflexos das explosões foram sentidos no Hotel Palestine (onde os jornalistas se hospedam) com mais intensidade do que durante os bombardeios da coalizão”, disse Robertson.

Pouco depois de chegar ao local da explosão, Robertson disse que podia ver mísseis sendo disparados para o céu.

Testemunhas contaram que um dos mísseis arremessados por causa da explosão atingiu uma casa onde se encontravam mulheres e crianças.

“O armazém está a cerca de 500 metros de nossa área e, nos últimos três dias, eles (militares norte-americanos) prometeram que não haveria explosões”, disse o médico Amar Sabah, do hospital de Yormuk, a Robertson.

“Mas, de manhã, começamos a escutar explosões; muitas pessoas morreram e muitas ficaram feridas”.

Na tarde deste sábado, uma multidão de manifestantes organizou uma passeata para exigir a retirada de armas e munições das áreas residenciais e o fim da ocupação norte-americana.

As forças da coalizão apreenderam grandes quantidades de armas e munições das forças iraquianas ao redor de Bagdá durante a operação que resultou na queda do regime de Saddam Hussein.